[ARTIGO] O perigo encontra-se à espreita... O Camarão Mantis


João Cotter

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O perigo encontra-se à espreita...

O Camarão Mantis

 

O perigo espreita nas zonas mais obscuras do seu aquário. Ouve estalidos durante a noite? Ocorrem mortes misteriosas? Prepare-se pois ele pode andar à solta no seu recife...

 

O mantis shrimp, ou camarão mantis ou, como dizem os brasileiros, a tamarutaca é um crustáceo predador que pertence à ordem Stomatopoda e que vive a pouca profundidade em águas tropicais e temperadas. Utilizam garras específicas para capturar e dominar as suas presas, trespassando-as ou despedaçando-as. A força e rapidez que um espécime adulto exerce com as suas garras são equivalentes a um disparo de uma arma de calibre 22. Por diversas vezes, já aconteceu estes camarões conseguirem quebrar vidro duplo. O ataque de um mantis é considerado um dos movimentos mais rápidos no reino animal, com velocidades na ordem dos 10 metros por segundo, sendo que até os peixes mais rápidos são facilmente agarrados, perfurados e imobilizados pelas suas garras.

 

Na realidade, apesar do seu nome vulgar, estes estomatópodes têm muito pouco em comum com os vulgares camarões ou com outros crustáceos decápodes e variam em tamanho de apenas 1 a 2 cm até mais de 30 cm em espécies do género Lysiosquilla, podendo considerar-se uma criatura bastante agressiva. Os seres de maiores dimensões conseguem «vencer» animais de dimensões bastante superiores, seja em situação de defesa, seja em caso de ataque, por exemplo, por uma questão de alimento.

 

Muitas das espécies vivem em corais e rochas e utilizam as suas duras garras como um bastão para reduzirem as suas presas a pequenos pedaços. Estas armas são de tal modo eficientes que são capazes de destruir rapidamente pernas, garras e carapaças de caranguejos, camarões, caracóis e outros seres de constituição rígida. Estes estomatópodes liquidam frequentemente caranguejos de dimensões muito superiores, partindo-os com as suas garras e transportando os pedaços para a sua caverna a fim de os consumirem. Outros animais, como bivalves e caracóis, são simplesmente transportados para «casa» e esmagados contra uma parede.

 

Outro dado notável deste ser é o facto de possuir a visão mais sofisticada do mundo. Um olho de um estomatópode contém 16 tipos diferentes de foto-receptores (12 para análise de cores, em comparação com os nossos 3 cones foto-receptores), filtros de cor e muitos receptores de polarização, tornando a retina destes seres a mais complexa do mundo. Um mantis consegue ver luz polarizada e quatro cores de luz UV. Conseguem também distinguir até 100.000 cores (enquanto que a visão humana consegue apenas ver até 10.000).

 

Outra característica fascinante destes seres é a sua capacidade de comunicação. As comunicações entre estomatópodes apresentam uma das mais rápidas taxas de transmissão de informação do reino animal. Durante interacções agressivas entre estes seres, as taxas de transmissão podem atingir os 8,6 bits por segundo. São de assinalar, como ponto de comparação, as seguintes taxas médias de transmissão:

 

Caranguejos eremitas : 1,5 bits/segundo

Rastos de feromonas das formigas de fogo: 1,4 bits/segundo

Dança das abelhas: 2 bits/segundo

Diálogo humano: 6 a 12 bits/segundo

 

Outra curiosidade interessante é o facto de ser dos poucos seres invertebrados que vivem de forma monogâmica, podendo algumas espécies viver em casal até 15 anos (como é o caso da espécie Lysiosquillina macullata).

 

O mantis no aquário

Alguns aquariofilistas consideram o mantis um ser muito interessante e curioso para se ter em cativeiro. Outros consideram-no um problema a eliminar. Geralmente, o mantis surge nos nossos aquários como um hóspede não convidado através dos pequenos orifícios existentes na rocha viva que adquirimos. Os estomatópodes estão presentes em águas marinhas tropicais de todo o mundo, mas é de salientar que a rocha viva de origem indonésia é particularmente rica neste tipo de seres. Os três espécimes que já apanhei nos meus aquários (um dos quais Haptosquilla trispinosa) encontravam-se em rochas provenientes dessa região.

Se desejar manter um mantis, deverá ter em conta que se trata de um carnívoro e que comerá tudo o que lhe ofereça (e ainda o que não lhe oferecer). São extremamente inteligentes e peritos em «caçar» os outros habitantes do seu aquário. Portanto, é preferível colocá-lo num aquário sem outros seres que lhe possam servir de presa, senão terá algumas surpresas desagradáveis.

 

Estará um mantis no seu aquário?

Alguns indícios:

 

• Desaparecimentos misteriosos

Quando peixes, crustáceos e invertebrados começam a desaparecer misteriosamente do seu aquário sem deixar vestígios, muitos aquariofilistas assumem imediatamente que se trata de um mantis. Apesar de este ser um sinal de existência de um estomatópode, tal suposição poderá ser algo prematura, pois outros motivos poderão estar por detrás desses desaparecimentos.

 

• Barulhos estranhos no aquário

Outro sinal que pode revelar a existência de um mantis num aquário é a ocorrência esporádica de sons semelhantes a estalidos, principalmente à noite, quando as luzes do aquário estão apagadas. O som provocado por um mantis é muito semelhante ao de um termóstato a bater no vidro do aquário e, como tal, poderá passar despercebido. O Pistol Shrimp, outro camarão que produz também estalidos semelhantes, poderá ser confundido com o mantis. Contudo, o pistol não tem a agressividade nem apresenta os perigos de um mantis, principalmente para os peixes. Há autores que revelam com alguma exactidão as diferenças de sons emitidos por estes dois crustáceos.

 

Capturar o mantis

Se descobriu que tem um mantis, é possível que este pequeno ser já lhe tenha provocado alguns danos, como a morte de outros habitantes do seu aquário. Contudo, há que ter em conta que a culpa de ele ali estar e de ter sido capturado numa rocha não é do pobre animal. Ele não pediu para ser colocado no seu aquário. É por estes e outros motivos que deve fazer os possíveis para evitar o sofrimento do estomatópode. Portanto, pense antecipadamente no que lhe vai fazer depois de apanhado. Poderão existir várias hipóteses:

• Mantê-lo num aquário só para ele ou numa sump;

• Verificar se existe algum aquariofilista interessado em ficar com ele (por exemplo, em fóruns dedicados a aquariofilia);

• Verificar se existe algum lojista ou aquário público interessado no mantis.

 

Após decidir o que fazer com o mantis sem o matar, é altura de o retirar do aquário.

A maior dificuldade da captura tem a ver com a identificação da localização do mantis. Se sabe que o mantis está lá mas nunca o viu, quando estiver a alimentar os seus peixes observe muito bem as rochas do aquário, principalmente onde existam cavidades. Experimente fazê-lo deixando as luzes o mais fracas possível, mas de modo a que consiga observar bem o aquário. O mantis aprecia locais mais escuros e, muitas vezes, aventura-se um pouco na altura das refeições. Se descobriu a sua «casa», observe atentamente e tenha a certeza que ele se encontra nessa rocha específica. Se assim for, é o momento de agir...

 

Tenha sempre cuidado e proteja as suas mãos com luvas grossas ou utilize qualquer tipo de instrumento de modo a não aproximar as suas mãos do animal. Convém notar que vários mergulhadores já sofreram amputações de dedos por causa de estomatópodes e os aquariofilistas por vezes ficam com golpes desagradáveis.

 

Remova a rocha com cuidado e coloque-a num balde ou outro tipo de recipiente. De seguida, partindo do princípio que não se pretende danificar a rocha nem o mantis, injecte lentamente água doce no orifício em que ele se encontra escondido. Após alguma insistência o mantis saltará para fora da rocha. Se este método não funcionar, experimente injectar água carbónica (água com bicarbonato de sódio ou, simplesmente, água gaseificada). Ambas as soluções anteriores resultaram comigo. O mantis fica apenas ligeiramente atordoado no recipiente e depois é só colocá-lo imediatamente noutro recipiente com água do aquário (e repor a rocha no aquário).

 

Nesta batalha é necessária muita paciência. Alguns aquariofilistas utilizam armadilhas específicas para capturar mantis, mas os resultados ficam, muitas vezes, aquém do esperado, acabando por serem capturados outros habitantes do aquário. Poderão ainda ser utilizados predadores naturais, tais como os peixes da família Balistidae. Porém, terão de ter um tamanho consideravelmente superior ao mantis pois, caso contrário, acabarão por se tornar vítimas do estomatópode. Infelizmente, este tipo de peixes não é compatível com a maioria dos nossos aquários.

 

Se for caso disso, boa sorte na captura do seu «bichinho».

 

Texto: João Cotter

João Cotter

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  • 5 meses depois...
  • 4 semanas depois...

Obrigado António.

 

Os mantis são crustáceos carnívoros e alimentam-se da mesma forma que os camarões carnívoros, tirando o facto de serem dotados de meios bastante eficazes para a predação!

Basicamente eles comerão todo o tipo de comidas que possamos dar e ainda comerão eremitas, gastrópodes, pequenos peixes, outros camarões, desde que tenham dimensão suficiente para lhes fazer frente.

 

Abraço,

João Cotter

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