josegmoreira

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  1. Não vá tão depressa. Vá por partes. Ainda por cima porque hoje tem os grupos e tudo isso para fazer trocas. Antes do mais, os severuns (Heros é o género, efasciatus é a espécie e o nome severum vinha da anterior nomenclatura, em que eram todos Cichlasoma severum) devem ser mantidos em casal e embora sejam relativamente fáceis de sexar, não basta juntar um macho e uma fêmea para ter garantias de obter um casal harmonioso. Por outro lado, também as Platydoras são uma espécie gregária, na Natureza vivem em cardumes com muitos indivíduos. Por outro lado, embora muita gente tenha só um óscar, isso é errado. Os óscares também são gregários em jovens, aprendem a reconhecer os companheiros de aquário e formam casais com ligações fortes (posso-lhe dizer que já cheguei a ter juntos mais de 20 óscares para ao fim de dois ou três anos conseguir uns 7 ou 8 casais). Os óscares são todos diferentes: eu tenho vários que me vêm comer à mão, uns que até se deixam acariciar sem medo nem fugir, outros que não gostem que lhes tente tocar e fogem e outros que me tentam sempre atacar. Temos de entender a personalidade de cada um e de ter paciência para conquistarmos a confiança deles. Os Parachromis também são bem espertos, mas em adultos, quando começam a ter as hormonas a ditarem que devem marcar território, acabam quase sempre por chocar com os óscares. Mas já lhe dei o meu Facebook. Entre lá em contacto comigo que eu dou-lhe pelo telefone uma série de pistas.
  2. Sim, até o Parachromis crescer, apesar de certas variedades dos loisellei não serem das mais agressivas. Porém, há por aí muitos loisellei que na realidade até são friedrichsthalii (há umas correntes no ramo da taxonomia que defendem mesmo a revisão da actual classificação das espécies) e esses têm pior feitio. Mas todos os ciclídeos são peixes gregários em juvenis e a na maioria das espéciesdevem ser mantidos em casal em adultos.
  3. Vou citar o que você escreveu: “Aprendi que (...) deveria comprar aos poucos e estudando as suas compatibilidades”. Então, se aprendeu isso, porque não estudou as compatibilidades das espécies?! Lamento, mas o que se constata no seu relato é que tem vindo a cometer uma série de disparates e que continua a fazê-los. Deixe-me lá tentar ajudá-lo a clarificar por pontos o que é que na aquariofilia se deve entender por “compatibilidade”: 1) Comecemos por definir o tipo de meio ambiente que queremos criar, se é um aquário de água dura e alcalina, se a água vai ser macia e ácida, enfim, os parâmetros-chave do meio ambiente. É que o bem-estar de qualquer espécie implica que as condições do meio ambiente em que ele vai estar se coadunem com as respectivas necessidades específicas, com a sua fisiologia, que foi fruto de adaptação ao seu ambiente de origem. Caso contrário, teremos logo aí uma situação clara de “incompatibilidade”. Tendo em conta toda a salganhada de espécies de ciclīdeos que você juntou, uns de águas bastante duras e com pH elevado (os parâmetros indicados para a maior parte dos ciclídeos mesoamericanos), outras de águas neutras e com uma dureza relativa e ainda de outros com águas ácidas, bem como o facto de juntar espécies da América do Sul, da América Central e da África Ocidental, não há logo aí “compatibilidade” nenhuma...; 2) Por outro lado, também temos de planear as coisas tendo em conta as dimensões que as diversas espécies atingem na fase adulta. Na Natureza até podem coexistir, mas ocupam nichos muito distintos nos respectivos biótopos, podem até ser concorrentes na cadeia alimentar mas não colidirem entre si. Já num aquário, que é um ambiente fechado, o desfecho mais comum é uns (os mais pequenos) a servirem de alimento aos outros (os maiores) mais cedo ou mais tarde, sendo que a espécie dominante vai também submeter as outras a um “stress” permanente que pode facilmente abrir espaço para problemas de saúde que, também mais cedo ou mais tarde, podem desequilibrar-lhe a saúde de todos os habitantes do sistema; 3) Vamos agora falar das compatibilidades entre os indivíduos das diversas espécies, sendo que aí temos sempre de ver que há diferenças entre as compatibilidades intraespecíficas (dentro da mesma espécie) e as interespecíficas (entre as distintas espécies). Ora isso exige um estudo muito aprofundado de cada uma das espécies que queremos manter. Conclusão: pelo que você mesmo escreveu, tem feito muito mal o “trabalho de casa” desde o início (e continua). Se quiser, procure-me no Facebook (o meu endereço é https://m.facebook.com/jgmoreira), envie-me uma mensagem para trocarmos de telefones e eu ajudo-o a organizar as ideias para conseguir melhorar substancialmente o seu planeamento. Porque pelo que contou no seu texto, só concluímos que fez montes de disparates. Lamento, mas não consigo pôr as coisas de outra forma. Vá lá, entre em contacto comigo que nós estamos aqui é para ajudar o pessoal, não para darmos “descascas” uns aos outros. E pode ficar tranquilo que eu mantenho e crio (ou já mantive e criei) todas as espécies de ciclídeos que você referiu. Cumprimentos, José Guilherme Moreira
  4. A Área Marinha Protegida das Avencas é inquestionavelmente o melhor sítio na Linha entre Lisboa e Cascais para apanharmos água do mar para os nossos aquários, pois não existem ali descargas de esgotos sanitários nem de efluentes industriais, além de serem proibidas embarcações até a ¼ de milha da costa, bem como a prática de desportos náuticos motorizados. Ou seja, a água ali não está contaminada, sendo que a sua qualidade é sujeita a monitorizações regulares. Compreende a zona entre as praias da Parede e da Bafureira e o link para quem quiser saber mais sobre o regime de protecção é este: https://ambiente.cascais.pt/pt/projetos/area-marinha-protegida-das-avencas Os roteiros dos grandes navios que entram no Porto de Lisboa são bem mais ao largo e não afectam minimamente a água naquela zona. Eu uso-a há anos nos meus aquários e nunca tive nenhum problema. É evidente que há muitos outros sítios onde a água é igualmente boa, mas já ficam bem mais longe de mim (e de Lisboa). Quando era miúdo ia com o meu pai para o Guincho apanhar água para os aquários de água salgada que tinha na altura, mas nesses tempos todas as praias aqui da Linha eram muito suspeitas. A qualidade da água era péssima. Eu fazia surf na praia de Santo Amaro de Oeiras, aqui mesmo ao pé de minha casa, e era vulgar estarmos na água e vermos dejectos a flutuar. Há cerca de 20/25 anos foi executado o projecto da Sanest, a empresa de saneamento da Costa do Estoril, que implementou novas estações de tratamento de resíduos e construiu uns esgotos submarinos para desviar todos esses dejectos para uns quilómetros longe da costa (não sei ao certo quantos, mas sei que passaram a ser despejados bem mais longe do que o Bugio, já em alto-mar). Só depois dessa altura é que a praia de Carcavelos começou a ter «bandeira azul»... E um facto curioso é que desde 2011 até à data só no ano passado (em 2017) é que Carcavelos não conseguiu a «bandeira azul». Este ano voltou a conseguir.
  5. Boas, Deixem-me começar este texto com um aviso sobre a imparcialidade do autor destas linhas no que toca ao tema em epígrafe. Sim, confesso: sou absolutamente suspeito quando o assunto são os aquários de biótopo, tal como sou absolutamente contra a hibridização de espécies, este último um tema muito na moda hoje em dia (mas que para mim é um verdadeiro atentado ao património genético dos nossos peixes, muitos deles em risco de extinção na Natureza. Defendo até que deviam ser proibidas as hibridizações em larga escala e que nós aquariófilos temos a responsabilidade de ajudar a conservar esse património genético...). Mas adiante… Um debate sobre a hibridização terá de ficar para uma outra altura... Hoje vamos centrar-nos nos aquários de biótopo, onde se juntam peixes e plantas da mesma região e se tentam recriar ao detalhe as condições que eles encontram na Natureza, criando um habitat o mais natural possível, um caminho que começou a ganhar uma nova dinâmica ao longo da última década e meia (e que pessoalmente tento seguir há mais de 35 anos). Vem isto a propósito do projecto Biotope Aquarium, a mais recente iniciativa de Heiko Bleher, apresentada há poucos meses. Para os mais desatentos, Heiko Bleher é um investigador, autor, fotógrafo e cineasta alemão muito conhecido entre a comunidade científica pela sua contribuição para a exploração de habitats de água doce e salobra em todo o mundo (já esteve em mais de 200 países), bem como pela descoberta de muitas espécies (sendo que várias delas foram inclusivamente baptizadas com a latinização do seu nome de família). Quem de nós, aquariófilos, não ouviu já falar de espécies de peixes de água doce como o Hemmigrammus bleheri, o Leporinus bleheri, a Bleheratherina pierucciae, o Streatocranus bleheri, a Channa bleheri, o Phenacogrammus bleheri, a Moenkhausia heikoi, a Chilatherina bleheri, a Vrisea bleheri, entre vários outros? Além de várias plantas? São todas espécies que foram descobertas por Heiko Bleher ou pela sua família, pois ele pertence à terceira geração de uma família que já deu enormes contributos no campo da aquariofilia… Para ficarmos sintonizados sobre o assunto, deixo aos meus caros leitores já aqui em baixo o filme de apresentação do projecto Biotope Aquarium: Ora o projecto Biotope Aquarium está agora a fazer crowdfunding através do site Indiegogo, para angariar fundos que lhe permitam produzir suportes multimédia informativos e com um público-alvo à escala global —multi-idioma, portanto —, destinados a educar os aquariófilos sobre os habitats aquáticos naturais de todo o mundo, A ideia é dar-lhes acesso a conhecimentos mais detalhados sobre o ambiente natural das espécies, que lhes permitam replicar com mais fidelidade essas comunidades ecológicas — mais conhecidas por biótopos — nos respectivos aquários domésticos. Para quem quiser saber mais sobre o projecto e as várias formas de participar ou contribuir, o link está aqui em baixo: https://www.indiegogo.com/projects/biotope-aquarium-project-apps-water#/ Aquário comunitário versus aquário de biótopo Pessoalmente, não podia estar mais de acordo com a iniciativa de Bleher. Não acho graça nenhuma a aquários comunitários de água doce, onde se juntam várias espécies de peixes e plantas só com base nas cores ou nas formas dos peixes, mau grado o facto de na maior parte das vezes eles terem requisitos ambientais totalmente diferentes. Para mim, sempre que me deparo com um aquário desses fico logo com a ideia de que a pessoa que o mantém deve ser principiante e não deve perceber quase nada do assunto… O que nem sempre corresponde à realidade, também tenho de admitir. Mas são as raras excepções que confirmam a regra… A realidade é que a maior parte dos aquariófilos começa o seu percurso neste hobby a juntar simplesmente animais e plantas de uma forma aleatória no aquário, decorando-o segundo uma estética pessoal e socorrendo-se muitas vezes de elementos totalmente artificiais. São os chamados aquários comunitários, que na maioria das vezes pouco ou nada têm de natural. Além das vulgares plantas e rochas de plástico, já vi aquários com castelos de plástico, sereias, barcos e até carros afundados. Às vezes até me arrepio… Gostos não se discutem, é certo... Mas já a falta de gosto é outra coisa completamente distinta… Porém, à medida que vamos aprendendo mais sobre o assunto, quase que diria que a tendência natural é passarmos a tentar recriar os habitats naturais de determinadas espécies, em vez de comunidades que integram peixes e plantas de diferentes partes do mundo. Na minha opinião há um prazer muito mais especial quando observamos os animais a interagirem entre si e com o ambiente que os rodeia como fazem na Natureza… Além de que num aquário de biótopo lhes proporcionamos as condições ideais, tal como os parâmetros de água mais adequados e a decoração que ajuda a manter esses parâmetros estáveis, exactamente como sucede na Natureza. Basicamente, estamos a reproduzir as condições para os seres vivos no nosso aquário terem um ambiente mais saudável. Tão simples quanto isto. Ou seja, um aquário de biótopo é a criação de um ambiente aquático onde todos os distintos organismos — sejam eles peixes, camarões, caracóis ou plantas — têm ao dispor as melhores condições para formarem uma comunidade verdadeiramente biológica, interagindo entre si e dependendo uns dos outros num micro-ecossistema que tenta ser a replicação mais próxima possível do que encontrariam no ambiente natural (tal e qual como se estivéssemos a ver um programa da National Geographic Wild ao vivo, só que este foi criado na nossa casa…) Com isso, todos os seres vivos dentro do nosso aquário passam a ter um comportamento natural e a recompensar-nos mostrando as suas melhores cores e reproduzindo-se com muito mais frequência. Para um aquariófilo consciencioso, é a simbiose perfeita entre a pesquisa científica e a paixão pelo aquário. Algo a que eu me costumo referir como aquariologia (ciência) e já não simples aquariofilia (lazer)… A história por detrás do movimento Segundo Heiko Bleher e Natasha Khardina, os dois principais mentores do projecto, tudo terá começado em Setembro de 2000, durante a feira semestral Zierfische & Aquarium, realizada em Duisburg, na Alemanha. Eles foram convidados pelos membros do clube de aquários belga De Zilverhaai para jantarem num restaurante italiano e discutirem a organização de um novo evento chamado AquaXpo, que acabou por se realizar em Hasselt, na Bélgica, um ano depois. Heiko concordou em ajudá-los e propôs-se decorar 23 aquários biótopos. O problema é que ele tinha uma agenda muito apertada e só iria dispôr de 5 dias para os montar… Foi uma tarefa ciclópica, mas Heiko lá conseguiu, com a ajuda de Natasha, decorando os aquários durante o dia e sofrendo de terríveis ataques de malária durante a noite, que não o impediam todavia de voltar a trabalhar de manhã. Embora o resultado desse trabalho não fosse aquários perfeitos do ponto de vista estético e artístico — pelo menos segundo os padrões estabelecidos por Takashi Amano (o japonês “pai” do chamado “aquário natural”, conceito que não se confunde com o aquário de biótopo, pois raramente coincidem…) — esses aquários transmitiram uma boa ideia aos visitantes sobre como pareciam os correspondentes habitats naturais, os autênticos. Os visitantes do evento entenderam que num aquário de biótopo os habitantes sentem-se instintivamente muito mais protegidos, reconhecem os arredores e comunicam com as outras espécies, que reconhecem, tal como estão acostumados a fazer nos habitats originais. Seguiram-se várias outras exposições semelhantes na Alemanha, Itália e Estados Unidos, todas com uma taxa de sucesso muito significativa. Depois desses eventos Heiko foi convidado para decorar aquários de biótopo na China, na Polónia, em Espanha, na Suécia, na Indonésia, na Austrália, nos Emiratos Árabes Unidos, na Índia, na Noruega, na Dinamarca, em França, no Canadá e em muitos outros países. O projecto Biotope Aquarium começou a ganhar forma como movimento, sobretudo por se tratar de passo natural e inevitável no desenvolvimento do hobby. Os aquários de biótopo modernos vieram unificar o conceito da beleza estética do Aquascaping com as pesquisas científicas indispensáveis para os aquariófilos conseguirem reproduzir uma expressão documental da Natureza, retratando lugares que poderão até vir a desaparecer dentro de pouco tempo. A consciencialização subjacente ao projecto A realidade é que nós, aquariófilos, temos de nos consciencializar de que os lugares de onde provêm muitos dos nossos peixes e plantas estão a desaparecer a um ritmo incrivelmente rápido. Se estivermos atentos ao que se passa no planeta, vemos que é urgente tomarmos todos medidas mais ecológicas, pois a pressão dos interesses modernos sobre os recursos do planeta — as agendas políticas, as crises económicas, a globalização, a poluição, o aumento da populações, etc — está a ameaçar o equilíbrio do mundo tal como o conhecemos. E a água doce é provavelmente um dos recursos naturais mais ameaçados… Heiko Bleher faz questão de salientar que a água doce constitui apenas 1% da superfície do planeta e que, incrivelmente, mais de 40% de todas as espécies de peixes conhecidas vivem nesse 1% . Ora o ser humano é uma das espécies que não conseguiria sobreviver sem água doce. Ou seja, enquanto espécie continuamos a destruir um dos fundamentos da nossa própria vida, que são os habitats de água doce. E estamos a fazê-lo em todo o planeta. Nem os glaciares — as reservas mais antigas de água doce — escapam a este ritmo destrutivo. É absolutamente evidente que precisamos de mudar urgentemente a nossa abordagem, a nossa consciência colectiva sobre a questão. O plano a longo prazo do projecto Biotope Aquarium é educar as pessoas, começando pelas mais novas, sobre a importância da conservação da água doce e de tudo o que vive nos seus habitats. Mas existe outro plano, este a curto prazo: antes que seja tarde demais, é urgente pesquisar e documentar cada um dos habitats de água doce em detalhe. Há muito poucas pessoas que já começaram a fazer esse trabalho há décadas. A viajarem por todo o mundo para fazerem pesquisa, enfiando-se de cabeça em cada canto dos rios, dos lagos ou mesmo de charcos de água, para procurarem peixes, plantas ou crustáceos e fotografá-los e anotar cada detalhe, por forma a documentarem todas as formas de vida aquática. Heiko Bleher é uma dessas pessoas. Quanto a mim, estou-lhe extremamente agradecido por isso. Cumprimentos
  6. Boas, Antes do mais, devo admitir que não venho muito ao aquariofilia.net. Mas também é inegável que quando passo por cá tento sempre contribuir com alguma coisa interessante para o resto da comunidade. Ora, ao ler as mensagens em debate neste tópico, confesso que fiquei muito surpreendido por não ver aqui mencionadas duas lojas que são para mim uma referência (e de visita periódica obrigatória), a saber: 1) A Aquamagia, em Santo Amaro de Oeiras (o site deles é https://aquamagia.com/pt) - Sou cliente assíduo desta loja desde que abriu — vai já para uns 15 anos —, e devo dizer que compro a maior parte do que preciso lá (também por conveniência, verdade seja dita, uma vez que fica muito perto de minha casa). Todavia, independentemente da proximidade, posso partilhar com o resto do pessoal um facto indesmentível: em todos estes anos que sou cliente da loja já lhes comprei mesmo muitos peixes e foram raríssimas as vezes em que tive problemas com os bichos. Assim de repente lembro-me que devem ter sido 2 ou 3, no máximo, os peixes que adquiri nesta loja e que não vinham em excelentes condições, sendo que em todos esses casos grande parte da culpa também foi minha, pois não examinei os peixes com calma e muita atenção, antes de pedir para serem ensacados (ao contrário do que exigem as regras). A regra nesta loja costuma ser terem os peixes e as plantas sempre em óptimas condições. O último desses casos em que a culpa foi sobretudo minha aconteceu no ano passado: apareceu lá na loja um óscar tigre vermelho já adulto, de 20/25 cm, lindo, mas que tinha ar de estar demasiado gordo (às vezes acontece...). Trouxe-o logo para casa e rapidamente percebi que o peixe estava era com uma forte obstipação e não comia nada (muito provavelmente resultante de o anterior dono lhe dar comida muito proteica e poucos vegetais). Com a mudança de ambiente o bicho ainda ficou pior e tive de lhe fazer o tratamento da praxe: esteve 3 semanas num aquário-hospital com um banho de sufalto de magnésio (Epsom salt), para ver se lhe relaxava os intestinos e ele começava a evacuar normalmente. Certo é que durante esse tempo todo o óscar recusou-se a comer as ervilhas cozidas descascadas que eu lhe dava. Ao fim dessas 3 semanas começou a comê-las e a ficar muito melhor. Porém, logo depois de eu o ter posto num aquário onde tenho outros óscares, voltou a ignorar a ementa vegetariana e a só querer comer os "pellets". Passados poucos dias teve uma recaída fatal... Outra coisa em que estou grato ao pessoal da Aquamagia — em particular ao Sr Pedro Figueira, o dono da loja — é a quantidade de espécies de peixes que já encomendaram de propósito para mim. Admito que sou um cliente mesmo muito chato, daqueles que estão quase sempre à procura de espécies difíceis de arranjar no nosso mercado... E se tenho hoje alguns dos exemplares que sempre desejei, a eles o devo. Quanto a assistência no material — basicamente eu só tenho termostatos Jäger e filtros Eheim, que quase nunca avariam mas precisam regularmente de peças de substituição— sempre foram irrepreensíveis. Também têm 3 marcas de medicamentos de que eu gosto particularmente e que não se encontram na maior parte das restantes lojas da zona de Lisboa: a NT Labs, a Easy-Life e a Aquarium Münster. Mas basicamente têm quase tudo o que é preciso, tanto para água doce como para água salgada. 2) O Koi Park, em Almada (o site deles é http://koipark.pt) - Quanto a esta loja, tenho de esclarecer um ponto prévio: até há cerca de ano e meio eu não pensava em voltar a pôr os pés lá. Além de achar que os aquários tinham uma péssima manutenção, todas as experiências que eu tinha tido com os funcionários nunca tinham sido satisfatórias. Sempre que lhes tinha colocado alguma questão — nomeadamente sobre a origem dos peixes, algo que para mim é um ponto-chave para saber quais as linhagens com que me "coso"nas criações que faço — recebia respostas vagas e inconclusivas. Como tinha ficado sempre com a impressão de que o pessoal da loja não percebia nada do assunto, tinha deixado de lá ir, pura e simplesmente. Só que no início de 2018 um amigo meu disse-me que estavam lá a trabalhar uns miúdos novos com formação em Biologia, que tinham vindo do Algarve — a Mariana e o Filipe — e que o atendimento na loja estava bem diferente, para muito melhor. Desafiou-me a ir lá porque eles percebiam a sério de peixes, aquários e lagos, disse-me... De tanto os elogiar, o meu amigo despertou-me a curiosidade e lá fui eu. A primeira pessoa com quem falei quando lá fui foi o Filipe e entendi-me logo lindamente com ele. Para começar, porque encontrei um profissional movido pela mesma paixão e sobretudo com um nível de conhecimentos muito acima do que se costuma encontrar nos funcionários das lojas de animais com departamento de aquariofilia — designadamente nas lojas dos centros comerciais, onde é muito frequente ser atendido por funcionários que nada percebem de aquariofilia. Depois, porque deparei com uma pessoa realmente interessada em me prestar um bom serviço, em conhecer o meu perfil de cliente, que tipo de aquários possuo, que espécies mantenho, de que novidades estou à procura, etc. De facto, a qualidade do atendimento que passei actualmente a ter no Koi Park é totalmente diferente do serviço que tinha recebido antes. Face ao que havia antes, a diferença é da noite para o dia. Se até há um ano e meio nunca me passaria sugerir a alguém que fosse ao Koi Park, hoje há vários amigos meus que também tinham deixado de lá ir e que voltaram a ser clientes regulares seguindo a minha recomendação. Uma das coisas que compro lá religiosamente são as rações da Hikari... Todavia, nem tudo "são rosas" no Koi Park. Para quem lá vai torna-se evidente que os aquários precisavam de melhor manutenção — leia-se mais gente para tomar conta devidamente da manutenção de todos aqueles tanques... — e que às vezes tropeçamos em estagiários que, mesmo dando-lhes o desconto de estarem a aprender, conseguem abusar da nossa paciência... Ainda há poucas semanas fui lá num Sábado à tarde com um amigo para irmos buscar uns peixes que estavam reservados para ele e estavam tantos clientes na loja que a Mariana e o Filipe não tinham mãos a medir. Calhou-nos uma estagiária que eu não conhecia e como nós queríamos despachar-nos e ela estava livre pedi-lhe para nos apanhar os peixes que queríamos. Além da manifesta falta de perícia a tentar apanhar os bichos com a rede, não é que no final a miúda se prepara para tirar o peixe da rede agarrando-o com as pontas dos dedos, como se estivesse a tirar batatas fritas do pacote? «I beg your pardon?», pensei... Levou logo um raspanete meu, claro (não é que eu tenha algo contra o facto de se apanhar um peixe com as mãos, pois pode-se perfeitamente fazê-lo, desde que se saiba como...) «Você está há pouco tempo nisto, não é verdade?», perguntei-lhe, visivelmente desagradado. «Sim, comecei esta semana...», retorquiu ela. Haja santa paciência... O resultado? Encolhi os ombros e acabei por lhe tirar o camaroeiro das mãos, para ser eu a apanhar o outro peixe sem lhe criar um trauma de stress... No final do episódio o meu amigo chamou-me a atenção para o facto de eu ter sido um bocado brusco com a pequena... Teve toda a razão: a culpa não foi dela... Na verdade até foi minha, porque fui eu que lhe pedi para nos apanhar os peixes... Para quem está de fora não se admite que uma estagiária sem experiência (ou com uma semana de experiência, o que vai dar ao mesmo...) atenda os clientes, mas a realidade é que — como aliás acabei de referir ainda agora —, há uma clara falta de pessoal no Koi Park, sobretudo ao fim de semana. Conclusão: se forem lá tentem não ir ao fim de semana e peçam para serem atendidos pela Mariana ou pelo Filipe... Mas atenção que no Koi Park não se encontra nada para água salgada. Em contrapartida, têm montes de artigos para lagos e muitas rações especialmente desenvolvidas para carpas Koi (Cyprinus rubrofuscus), bem como nenúfares a preços muito razoáveis. Por último, ainda sobre lojas de aquariofilia na região de Lisboa, lamento dizê-lo, mas tenho um severo reparo a fazer a um dos "posts" anteriores: mencionar as lojas Quatro Patas na mesma listagem em que surgem lojas de qualidade como a Aquahobby (https://www.aquahobby.pt), a Aquafish (http://www.aquafish.pt), a Aquaeden (http://aquaeden-shop.net) ou mesmo a Agradiscus (é pequena, fica na Rebelva, em Carcavelos e penso que não tem site, mas costuma ter bons exemplares...) só pode ser um erro de "casting" grosseiro... Se estamos a falar francamente, qualquer uma destas lojas dá dez a zero à Quatro Patas e não existe comparação possível. Da última vez que passei pela loja deles no Centro Comercial de Cascais, há cerca de 2 ou 3 meses — decidi ir lá dar uma olhada, por descargo de consciência... — vi vários aquários em que havia fortes probabilidades de a água não estar nada boa e não vi um único peixe sobre o qual pudesse dizer que estava em excelentes condições. Palavra! Nestas coisas não me engasgo nem me ponho cá com rodeios... Há porém uma loja de animais que eu gostaria também de referir, à qual não tenho ido muito nos últimos anos mas onde sempre fui muitíssimo bem atendido. E que deve ser nos dias de hoje a loja de animais com secção de aquariofilia mais antiga de Lisboa. Estou a falar da Chique das Avenidas, situada na Rua Actor Taborda, entre o largo do Saldanha e a Estefânia. Hoje é mais conhecida por ser especializada na venda de pássaros exóticos e não sei ao certo que tipo de peixes e plantas ainda terá. Mas sempre que passar lá por perto aproveitarei seguramente para fazer uma visita. Houve tempos em que a Chique das Avenidas tinha muitos aquários e recebia novidades todas as semanas. Na altura eu era jornalista no jornal «O Independente», que ficava mesmo ao lado da loja, e passava por lá sempre que recebiam peixes. O dono é o Sr Armando, sempre foi de uma extrema simpatia e pela parte que me toca merece-me uma particular consideração. Foi ele que me arranjou — por especial encomenda, claro está — alguns dos primeiros uarus que tive. A que juntei outros que me arranjou o meu amigo Ricardo Dantas, que na altura tinha a Zooaquarium, situada na Graça, a qual era inquestionavelmente a melhor loja de aquariofilia de Lisboa. Com esses uarus, de diferentes origens, que vieram juvenis e eu criei, consegui uns casais e obtive umas reproduções, já lá vão mais de 20 anos... Espero que os meus comentários e as minhas sugestões venham a ser úteis a alguém. Já agora, aproveito para deixar duas perguntas ao resto do pessoal, perguntas estas que fogem um pouco ao tema do tópico, mas têm o seu valor histórico: alguns dos membros do aquariofilia.net se recorda da loja de aquariofilia do Sr Terruta, na estação do Cais de Sodré? Essa sim, era uma das lojas mais antigas de Lisboa... E alguém se lembra da altura em que havia vendas de peixes no Aquário Vasco da Gama? Julgo que era às Terças e aos Sábados de tarde... Alguém ainda se lembra disso? Não faço ideia porque carga de água é que acabaram com isso. Era um ponto de encontro muito giro entre a malta, o Aquário Vasco da Gama fazia muitas criações que tinham saída e faziam-se sempre umas trocas de peixes interessantes (na altura não havia OLX nem quejandos...) Há coisas que valia mesmo a pena recuperar... Cumprimentos
  7. Já agora, na sequência do texto anterior, em que defendi o uso do sal marinho para o tratamento da falsa doença fúngica, deixo ao pessoal uma tabela para facilitar a consulta sobre como podemos usar o sal marinho de forma terapêutica nos nossos aquários... table, th, td { border: 1px solid #999999; } tr:hover { background-color: #f5f5f5; } tr:nth-child(even) { background-color: #f2f2f2; } th { background-color: #444445; color: #ffffff; } th, td { padding: 6px 8px 15px; } Dosagens de sal marinho para o tratamento de doenças ou alívio do stress Problema Concentração e duração do tratamento Parasitas externos de peixes em criação Encher um recipiente externo com água do aquário, adicionar 30 gramas de sal por litro e dar um banho rápido de 15 segundos ao peixe Parasitas externos (Costia, Epistylis, Trichodina, Chilodonella e Dactylogyrus/Gyrodactylus): Método A) Encher um recipiente externo com água do aquário, adicionar entre 10 a 20 gramas de sal por litro e dar um banho de até 30 minutos no máximo (ou até o peixe mostrar sinais de stress) Método B) Dissolver entre 1 a 2 gramas de sal por litro e adicionar à agua do aquário como tratamento de longa duração Envenenamento por nitritos Dissolver 5 gramas de sal (uma colher de chá rasa) por cada 20 litros e adicionar à água do aquário (quando os níveis de nitritos excederem 0,5 ppm) Recuperação de stress (e durante o transporte) Dissolver entre 1 a 3 gramas de sal por litro na água para facilitar a recuperação ou como tratamento preventivo
  8. Boas Emílio, Antes do mais, deixe-me dizer-lhe que por si só o facto de o seu óscar ficar deitado não é necessariamente razão para você ficar preocupado. Desde logo porque o seu óscar vem comer. Ou seja, preocupante seria se ele não se mexesse para vir comer. Peixe saudável é peixe que está sempre com fome... Também acho que não tem nada a ver com a luz, como você sugere. Na realidade, um diagnóstico correcto só seria possível olhando bem para o aquário e sobretudo para o peixe, porque se ele permanece deitado porque não se sente em forma, então há de haver outros indícios para o ajudar a perceber o que se passa. Aliás, eu já percebi que até há óscares que costumam gostar de ficar a descansar no fundo, deitados de lado, sobretudo quando são mais velhos. Vamos começar por aí... Será esse o caso? Que idade tem o seu peixe? Por outro lado, não se esqueça de que o óscar é um animal gregário, gosta de ter companhia da sua espécie. Se estiver sozinho, é muito provável que se sinta aborrecido. Os óscares são considerados como estando entre os peixes de aquário mais inteligentes, são muito curiosos, são brincalhões, têm personalidades diferentes. Eu adoro óscares, a primeira vez que os consegui reproduzir foi há já mais de 30 anos e tenho neste momento mais de 20 óscares adultos (ou quase adultos), sendo que todos eles têm personalidades bem diferentes: sempre que meto a mão no aquário há uns que me atacam, há outros que me deixam fazer-lhes festas, há outros que vêm só olhar para ver o que se passa e há outros mais tímidos que se escondem logo... Se quiser ver alguns dos meus óscares, tenho uns vídeos no YouTube (são vídeos antigos, entretanto já cresceram...) Há uns casais que gostam de brincar com os seixos maiores no aquário, empurrando-os com a boca, como se fossem bulldozers... Às vezes empurram esses seixos contra o vidro e as visitas que vêm a minha casa ficam supreendidas e perguntam o que é aquilo. «São os meus óscares que estão a jogar à malha», respondo... Resumindo, se o seu óscar estiver sozinho também é muito provável que esteja chateado. Não estou a brincar. Todavia, pode dar-se o caso de o seu peixe estar mesmo com problemas e o ficar apático ser a forma de manifestar o seu desconforto. Você diz que testou tudo, mas não diz quais são os parâmetros da sua água. Se fosse um pico de amónia ele estaria esfregar os opérculos na decoração, a respirar de forma acelerada e viria mais à superfície, podendo também ficar com a coloração mais escura e as barbatanas encolhidas. Olhe para o seu peixe e veja se está a respirar normalmente, se tem boa cor e as barbatanas abertas. Além da amónia e dos nitritos veja também os nitratos, pois os óscares são peixes que produzem muitos dejectos e precisam de uma excelente filtração. Quanto aos parâmetros correctos, espera-se que o pH esteja neutro ou ligeiramente ácido e a dureza da água seja mediana. Se a sua água estiver ácida, na casa dos 6.5, pense em subir o KH (a dureza de carbonatos) para assegurar que está bem tamponada e evitar o risco de uma acidose (ocorrem frequentemente acidoses em aquários com óscares em que sejam descuradas as mudanças de água). Os óscares não gostam de águas muito ácidas nem muito macias. Começam a ficar letárgicos quando o PH desce abaixo dos 6,6. Pode ser o caso, pois você não enumera os valores que registou. Olhe que a temperatura baixa também os deixa mais apáticos... Se a água estiver bem e o peixe abrir muito os opérculos quando respira, também pode dar-se o caso de ter parasitas nas guelras. Quando os peixes têm parasitas que os incomodam (do tipo gyrodactylus ou dactylogyrus), começam por roçar-se na decoração, a ficar muito parados na zona do fundo e se a infestação avançar vão subindo na coluna de água até permanecerem parados na superfície, com as barbatanas encolhidas, a golfarem o ar. Mas se fosse esse o caso então o seu óscar estaria numa fase de infestação ainda incipiente e se houvesse mais peixes no aquário os outros também seriam atacados. Você tem mais peixes no aquário? Se sim, nota algum problema nesses peixes? Como vê, já começam a ser muitas perguntas... Mas olhe que todas elas são indispensáveis para você conseguir fazer um bom diagnóstico... Por último, muito importante: olhe bem para as fezes do seu óscar e verifique se não saem translúcidas, esbranquiçadas ou pouco consistentes. Se for esse o caso, então o mais provável é que tenha um problema de parasitas intestinais. Como os óscares são muito comilões e têm intestinos muito compridos (como aliás quase todos os ciclídeos), são muito atreitos a problemas de parasitas intestinais, bem como a obstipações. As obstipações são como "entupimentos" dos intestinos, que causam prisão de ventre aos peixes e os deixam muito desconfortáveis, podendo conduzir mesmo à morte, se não forem tratadas a tempo. Você costuma dar verduras ao seu óscar, do tipo ervilhas cozidas descascadas, courgettes ou bróculos? Olhe que ele bem precisa... Os meus adoram. E se forem parasitas intestinais (do tipo Hexamita, sp., por exemplo), tem mesmo de o tratar rapidamente, caso contrário dentro de pouco tempo aparece-lhe a "doença do buraco", cujos sintomas são o aparecimento de buracos na pele da testa do peixe. Isso é muito comum nos óscares e um dos primeiros sinais de infestações por parasitas é os peixes ficarem imóveis no fundo do aquário. Bem, acho que já lhe dei várias pistas para conseguir você mesmo avançar um diagnóstico. Olhe bem para o ambiente do seu aquário e depois para o seu peixe. Observe tudo com atenção e registe todos os aspectos que lhe pareçam fora do normal. Mas não se precipite a fazer logo tratamentos. Como lhe disse ao início, se o seu peixe se levanta do seu imobilismo para comer é porque não deve estar tão mal quanto você pensa... Boa sorte. Cumprimentos
  9. Boas, Lembrei-me de escrever este texto a propósito do mais recente problema que tive no meu aquário de ciclídeos da América Central: uma infestação de parasitas protozoários do género Epistylis, também conhecida como "falsa doença fúngica". Como infelizmente existe pouca informação em português sobre esta doença — altamente contagiosa e que ocorre com relativa frequência—, achei que não me custava nada perder uns minutos a escrever um texto que pudesse ser útil ao resto da comunidade aquariófila lusitana. Se eventualmente vier a ajudar alguém, já terá valido a pena. Porque a verdade é que apenas encontrei informação relevante sobre esta doença nos meus livros sobre doenças de peixes em inglês e francês, sendo que alguns deles recomendam o uso de formalina (uma solução que não me agrada de todo, por se tratar de um produto altamente tóxico para várias espécies e que pode afectar o crescimento dos peixes em tratamentos prolongados), enquanto outros sugerem o velho método do sal marinho (NaCl, ou seja, cloreto de sódio). A origem do problema conta-se em poucas palavras. Um amigo cedeu-me uma fêmea Vieja (Paraneetroplus melanurus) adulta, para eu juntar aos que já tenho e tentar formar novos casais. Ora esse amigo tinha tido recentemente um problema de "falsa doença fúngica" no aquário e tinha feito um tratamento à água com um desparasitante externo e adicionado sal marinho. Como ao fim de uma semana os sintomas no aquário dele já tinham desaparecido totalmente (pelo menos na aparência), ele apanhou o peixe e trouxe-mo. Quanto a mim, ansioso por ver como a nova fêmea iria reagir com um macho solteiro que cá tenho, em vez de a deixar de quarentena, pu-la logo no aquário. Confiei que já estava tudo bem com ela e foi asneira da grossa, como se pôde ver quase de seguida, poucos dias depois. O aquário está carregado de peixes, com vários casais a reproduzirem ali e existem guerras permanentes de delimitação de territórios entre eles. Ou seja, estão constantemente a morderem-se, muitas vezes fazem «jaw-lock» entre si e nessas disputas abrem pequenas feridas que usualmente costumam fechar em 2 ou 3 dias. Só que esse equilíbrio é bastante precário, pelo que a introdução de um peixe novo que pelos vistos ainda não estava totalmente recuperado veio espoletar uma epidemia. Os parasitas trazidos pelo novo peixe atacaram os outros onde eles estavam mais fragilizados (as pequenas feridas abertas pelas brigas...) e lá tive de ir procurar a melhor solução para resolver o problema. Depois de pedir a opinião a vários aquariófilos meus amigos que têm peixes há muitos anos — quando tenho problemas faço sempre isso, pois embora tenha peixes há cerca de 45 anos (já tive aquários de água salgada e lagos mas no momento actual só tenho peixes de água doce), a verdade é que estou sempre a aprender coisas novas com os meus amigos —, cheguei à conclusão de que todos estávamos de acordo no caminho a seguir: não optar pela formalina e avançar com o tratamento por sal marinho. Aliás, permitam-me aproveitar aqui para agradecer ao meu grande amigo Tiago Valadares Tavares — que além de aquariófilo inveterado é o o veterinário que mais sabe de peixes entre os que conheço —, a preciosa ajuda que uma vez mais me deu e a sua paciência para discutir o problema comigo... Protozoários Epistylis (v. g. "falsa doença fúngica"): sintomas, prevenção e tratamento Sintomas: As colónias de Epistylis assemelham-se a pequenos tufos de fungos, manifestando-se frequentemente na forma de pequenas bolas brancas de 2/3 mm, agarradas ao corpo dos peixes. Geralmente aparecem sobretudo nas superfícies externas mais sólidas do peixe, como os opérculos ou os raios e pontas das barbatanas. Nas escamas dos peixes parecem pequenas bolas de algodão. Nos raios das barbatanas parecem às vezes pequenos quistos debaixo da pele. Muitas vezes surgem acompanhadas de sintomas de infecções bacterianas ou mesmo de feridas infectadas. Quando começa a haver infecção, as bolas costumam ganhar uma cor mais rosa. Em estados mais avançados podem avançar mesmo para feridas ulcerosas vermelhas, sendo nesta fase o tratamento mais demorado (pode demorar até 6 semanas...). Embora aparentem ser fungos, não o são. Para os aquariófilos inexperientes, a confusão leva muitas vezes a diagnósticos errados e a tratamentos absolutamente ineficazes. Trata-se antes de protozoários do género ciliados, que se caracterizam pela presença de organelos em forma de pêlos, ou tentáculos sugadores, chamados cílios. São organismos perseguidores, pois ligam-se aos peixes que tenham tecidos afectados por colónias de bactérias e alimentam-se desses tecidos. São considerados simbiontes, ou seja não são considerados verdadeiros parasitas, porque se alimentam das colónias de bactérias na ferida do peixe, mas a realidade é que o seu pedúnculo pode penetrar profundamente na pele do peixe atacado e agravar ainda mais os danos causados pela infecção bacteriana já existente, ampliando-a. Convém esclarecer que a infecção bacteriana previamente existente é que é considerada a principal causa do problema clínico. Ou seja, estes ciliados aproveitam-se da brecha já existente na camada protectora da pele do peixe para avançarem e se multiplicarem. Aliás, suspeita-se que nalgumas espécies, como o gourami gigante (Osphronemus goramy) por exemplo, alguns destes protozoários, designadamente o Epistylis colisarum, sobrevivam permanentemente fixados em peixes saudáveis, não os incomodando minimamente. Ou seja, são inofensivos para o peixe até ao momento em que apareça um ponto de entrada nas defesas do sistema imunitário do anfitrião... Se houver más condições no aquário — má qualidade de água, sobrelotação, conflitos, stress, etc — ou vários peixes enfraquecidos, a doença é altamente contagiosa e pode provocar uma epidemia, pois a transmissão ocorre através dos protozoários que estejam no estado de flutuação livre na coluna de água. É nessa fase errante, em que os protozoários estão separados da colónia de origem, que se conseguem agarrar a pequenas feridas onde já haja uma população de bactérias para fixarem os seus tentáculos e criarem uma nova colónia. Seguem-se fotos que tirei aos meus peixes para mostrar como se manifestam os problemas: Prevenção: A melhor forma de evitar problemas é o tratamento oportuno de feridas que possam conduzir a infecções bacterianas externas. Convém ter em conta que há alguns factores que predispõem para o o desenvolvimento destes protozoários e o aparecimento da doença, em particular a existência de poluição orgânica que potencie um "caldo" de bactérias, situação em que o risco de infecções bacterianas aumenta consideravelmente. Resumindo: como eu costumo dizer aos meus amigos, os parasitas estão para os peixes como as pulgas para os cães. Coexistem sempre, mas se estiverem controlados não há problema. Se sobrevier alguma razão que facilite o seu desenvolvimento, dá-se uma infestação num instante... Ou seja, também os ciliados Epistylis raramente causam problemas para os peixes num aquário se não encontrarem condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Tratamento: Imersão prolongada em banho de sal marinho (cloreto de sódio), durante 7 a 10 dias, no mínimo, numa concentração de entre 50 gramas e até 200 gramas de sal por 100 litros, dependendo das espécies. Recomenda-se usar sal próprio para aquários e não sal de cozinha, pois muitas vezes o sal de cozinha pode conter aditivos tóxicos. O sal tem também a vantagem de desinfectar e acelerar a cicatrização. Se viver perto do mar, como eu, pode também adicionar água do mar (captada em zona segura, não contaminada). Para o ajudar a fazer as contas, registe que na costa Atlântica portuguesa a água do mar tem cerca de 34 gramas de sal por litro. Eu costumo adicionar 1 litro de água do mar por cada 100 litros de forma espaçada (3/4 horas de intervalo) até atingir a concentração desejada. Um diagnóstico precoce é fundamental para o rápido controlo da doença. Note-se todavia que a infecção bacteriana concomitante também deve ser tratada. Nos casos mais graves o tratamento pode ter de se prolongar por várias semanas, tendo de ser reposta a quantidade de sal que for retirada após cada mudança de água. Quando os sintomas desaparecerem totalmente, deve-se efectuar várias mudanças de água significativas para retirar completamente o sal, pois ele não se evapora... Muita atenção: algumas espécies de peixes, como as coridoras (Corydoras sp.) e os peixes sem escamas são absolutamente intolerantes ao sal. E as plantas também têm uma fraquíssima tolerância ao sódio... Para a malta dos plantados, convém retirarem os peixes para um aquário-hospital. Bibliografia: Edward J. Noga, «Fish Disease: Diagnosis and Treatment» Ronald J. Roberts, «Fish Pathology»
  10. Caro Gilberto, Sugeri as (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal sobretudo porque as carpas Koi são peixes caros e nāo é boa ideia usá-las como "cobaias" no arranque do lago. Por outro lado, como são um peixe muito mais pequeno que uma Koi (mesmo do que uma Koi juvenil), um pequeno cardume de (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal representa para o lago uma carga de biomassa muito inferior ao de 3 ou 4 carpas Koi, não o saturando tão depressa na fase de arranque, em que o equilíbrio biológico sinda não foi atingido. Além disso, as (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal servem também para controlar a salubridade (comem as larvas de mosquito que abundam nos pontos mortos dos lagos, nomeadamente nas margens, onde a circulaçāo da água é deficiente e onde as carpas muitas vezes não chegam). Ou seja, ajudam muito no início do ciclo, além de que são peixes muito resistentes a condiçōes adversas. Aliás, convém esclarecer que a venda das (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal enquanto peixes ornamentais está proibida e quem as largar na natureza sujeita-se a multas pesadas, pois são uma espécie invasora. Eu uso-as apenas como alimento vivo, (depois de as desparasitar numa solução concentrada de azul de metileno) e para ciclar os lagos. Num lago, depois de estabelecida uma colónia e nascerem alevins, é sinal de que as condiçōes biológicas do meio já estão boas. Um exemplo de um lago muito recente num espaço público que durante um ano só teve (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal (a testar a água e a rodar o ciclo) é o do lago da fase 3 do Parque dos Poetas, em Oeiras, perto de onde moro. Agora está cheio de crias de (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal e só na passada Primavera é que começaram a adicionar Kois e cometas. Porque a fórmula que eu lhe sugeri está comprovada... Por outro lado, suspeito que as plantas que pôs no seu lago não sejam capazes de sobreviver a um inverno rigoroso. Se a temperatura da água cair abaixo dos 5 graus quase que aposto que irão todas à vida... Já os nenúfares e os jacintos são capazes de sobreviver a esse frio. Mas os nenúfares também são caros e por isso mesmo eu sugeri os jacintos de água (para servirem de cobaias e retirarem os nutrientes da água que costumam levar a explosōes de algas em lagos novos). Não sei onde você está, mas eu costumo adquirir os nenúfares no Viveiro Belo Horizonte, em Alcabideche (junto ao centro de reabilitação do Alcoitão) pois aí costumam ter boa qualidade e uns preços muito aceitáveis. Eu evito os viveiros que só têm nenúfares esporadicamente ou por encomenda, pois nesses os preços costumam ser exorbitantes. No Koi Park também encontra bons nenúfares a bons preços. Quanto a você ter de aprender ainda muita coisa, não se assuste. Vai ver que essa curva de aprendizagem é das coisas mais fascinantes deste hobby. E volto a dizer-lhe: a paciência, o ter calma e saber esperar pelo curso natural das coisas é a única coisa que não se compra. Você até podia inocular o seu lago com bactérias dos lagos dos seus familiares e acelerar o processo, mas grande parte da magia está em aprender a saber o que está a suceder e acompanhar essa evolução. Pelas fotos que partilhou, o seu lago está fantástico e parece-me que tem tudo para resultar e alcançar um equilíbrio biológico a curto prazo. Você já tem o diagnóstico do que estava a falhar. Agora está nas suas mãos aprender a orientá-lo para ele ser o ambiente/ecossistema que você deseja para os seus peixes. Só mais uma pergunta: por acaso não mediu os níveis de amonia e de nitratos antes de mudar a água do seu lago, pois não? Fiquei curioso... Cumprimentos, José Guilherme Moreira
  11. Boas Gilberto, Vi o seu post e como no início do Verão ajudei um amigo com um problema algo semelhante, decidi responder-lhe. O membro Tozé Nunes já lhe deu umas boas pistas, mas permita-me que lhe diga como eu resolveria o problema passo a passo... Passo 1: Retirava já todos os peixes ainda vivos do lago e punha-os num aquário-hospital (já com o filtro maturado e água de boa qualidade, evidentemente). O facto de os peixes estarem a largar muco é sinal de que a qualidade da água não está nada boa. Muito provavelmente os seus peixes estão com uma intoxicação por amónia (NH4), decorrente da introdução de demasiados peixes num lago não-ciclado, algo que é quase sempre fatal... Se olhar para os opérculos deles, aposto que estão inflamados. Se algum sobreviver será por sorte. Mas é capaz de ter também um valor elevado de nitritos (NO2), que também são tóxicos Passo 2: Mudava 40 a 50% da água do lago para reduzir os níveis de amónia e nitritos para valores não-tóxicos e deixava o filtro a trabalhar 24 horas por dia (sem o limpar). Pode usar água da rede pública, desde que acondicionada (eu media os parâmetros da água pública, para saber com o que podia contar no futuro... Às vezes os resultados não são nada satisfatórios...) Como o lago já não tem peixes nesta etapa, não importa a temperatura da água nova. Passo 3: Esperava uma semana (sempre com o filtro a trabalhar) para fazer novas mediçōes dos parâmetros e corrigia o que for preciso (se a amónia e os nitritos ainda estiverem altos, esperava mais uma semana e voltava a testar). Se depois disso continuassem altos, ia ver se não estaria a haver alguma contaminaçāo proveniente dos terrenos adjacentes (algo bastante comum, mas muitas vezes esquecido... Convém nunca esquecer que um lago não é um ambiente tão fechado quanto um aquário). Passo 4: Se já não houvesse níveis de amónia significativos e os nitritos estivessem na casa dos 0.25 ppm, recomeçava a ciclagem do lago com uns 4 ou 5 casais de (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal (são muito resistentes e compram-se no Koi Park, em Almada, como alimento vivo por meia dúzia de euros...) e alimentava-as espartanamente durante 2 a 3 semanas. Voltava a medir os parâmetros findo esse prazo e voltava a corrigir o que fosse preciso. Mas terminada esta fase já deveria estar tudo normalizado. Passo 5: Esperava mais 1 a 2 semanas antes de introduzir os peixes (em média sāo precisas 6 a 8 semanas para fechar o ciclo do azoto) e ia pondo os peixes aos poucos (1 a 2 por semana) durante as semanas seguintes até chegar aos tais 15 peixes que você quer... Para um lago de 1500 litros parece-me um povoamento sustentável, mas isso depende mais da área da superfície do que da profundidade do lago. Não se esqueça de que a troca gasosa ocorre sobretudo à superfície (ao agitar as águas da superfície com o fluxo da sua cascata, por exemplo, estará a ampliar a área da superfície) Ou seja, em 2 lagos com a mesma área de superfície, o que for mais fundo não pode levar mais peixes do que o outro. Embora o mais fundo tenha mais água, a troca gasosa à superfície é que conta para calcularmos os peixes que podemos lá pôr. É assim que se fazem as contas. Conclusão: só há uma coisa que você não pode comprar para resolver o seu problema, que é paciência. Essa exige tempo de espera, mas o tempo é grátis... E já agora, se me permite, para o lago escolhia carpas Koi e não cometas ou pimpōes (duram muito mais anos e são mais domesticáveis). Ficam maiores mas quando crescessem vendia as que não quisesse. E se depois quisesse livrar-se das (G a m b u s i a s) Espécie inserida no DL 565/99. Lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal eu ficava-lhe com elas para dar de comer aos meus peixes, em troca desta consulta... (Agora estou a brincar, claro) Ah! Já me esquecia: também metia no lago uns jacintos de água para ajudarem a evitar as explosões de algas (algo expectável quando chegar o Verão de Sāo Martinho...). Atençāo que a venda destas plantas está proibida, por se tratar de uma espécie invasora (como em Portugal não há capivaras para os comerem, tornam-se uma praga num instante...) mas há sempre alguém que nos pode oferecer uns pés, desde que sejamos responsáveis e não os deitemos fora sem os destruir. Eu confesso que mantenho alguns em casa numa simples bacia com água e dão umas flores absolutamente espectaculares (um dia destes ainda faço um post intitulado "A minha bacia com jacintos de água", anexo fotos deles e vai ver que muita gente vai ficar de queixo caído...) Boa sorte. Cumprimentos
  12. Boas, Dois amigos aquariófilos por quem tenho grande consideração pessoal e cujas opiniões muito respeito chamaram-me a atenção para alguns detalhes do meu "post" anterior que merecem explicações um pouco mais precisas, em nome do rigor. Assim sendo, aqui vão elas: A primeira tem a ver com a clarificação da nomenclatura da genética, pois nas experiências de Mendel ele utilizava a sigla P (do latim "parentes" ou "parentum") para designar os pais nas suas experiências de criação. Ou seja, não devemos falar de F0 (tal como eu tentei explicar antes), mas sim de P, para designarmos os progenitores de uma determinada árvore genealógica. Pelos vistos, eu não tinha sido muito claro. Para os membros que queiram perceber esta questão com mais detalhe, aqui está um link com uma explicação clara e concisa sobre as primeiras experiências de Mendel: https://www.ck12.org/book/CK-12-Biology-Concepts/section/3.2/ A segunda é que o P pode aplicar-se também a casais de peixes "Tank Raised" e não apenas a casais de "Wild Caught", ao contrário do que eu tinha afirmado. Tomemos como ponto de partida o caso dos híbridos (como os flowerhorn e os ciclídeos papagaio não-verdadeiros, só para apontar dois exemplos). Os pais destas notoespécies (isto é, espécies resultantes de cruzamentos entre duas espécies naturais) são P na árvore genealógica. São os "parentes", que dão origem aos "filialis". Porque o P tem apenas a ver com o casal reprodutor que deu início à linhagem. Ora os híbridos não são nunca "Wild Caught", são sempre "Tank Raised"... E as suas gerações já serão F1 e por aí em diante. "Mea culpa". A explicação deste aspecto tinha-me escapado no "post" anterior, talvez porque eu não goste nem um bocadinho de espécies híbridas... (só que gostos são gostos, enquanto o rigor é uma coisa completamente diferente...) Além disso, também ao contrário do que eu afirmei no "post" anterior, os meus amigos não concordam que a partir da quarta geração a árvore genealógica já não faça muita diferença. De facto, se estivermos a pensar em criadores em larga escala, que têm de ter particular atenção à linhagem dos seus exemplares reprodutores, têm toda a razão. Num programa de criação em larga escala (como sucede nas "fish farms" de Singapura ou da Malásia), têm obrigatoriamente de manter um registo dos F3, F4, F5 e por aí em diante para minimizarem as consaguinidades. Um exemplo concreto que me foi apontado foi o de uma grande empresa francesa que cria peixes tropicais para exportação (que além da sua estação de criação no sul de França, também tem uma "fish farm" enorme no Senegal), que exporta os seus peixes com indicações de linhagem que vão pelo menos até F6 (como já pude comprovar, pois já tive peixes provenientes de lá), algo que indica um nível de controle muito apertado e uma supervisão muito eficiente nas respectivas linhagens. Pronto. É tudo. Penso que assim ficam corrigidas as "gralhas" científicas involuntárias que cometi. Cumprimentos a todos.
  13. Boas, Tenho constatado que muitos aquariófilos (e até alguns importadores...) se referem incorrectamente a peixes selvagens como sendo F0. Por isso, permitam-me aqui clarificar um detalhe: se queremos utilizar a nomenclatura correctamente, não existe a classificação F0. Os peixes de aquário ou são WC (sigla de "Wild Caught", que significa capturados no seu habitat natural) ou TR (sigla de "Tank Raised", que significa criados em tanques, em cativeiro). Ora só os peixes TR podem ser F1, F2 e por aí em diante (ou seja, "filhos de"...), apesar do facto de depois da quarta geração a árvore genealógica já não fazer muita diferença... Já a qualidade da linhagem e o grau de parentesco, esses sim, fazem muita diferença, pois qualquer criador minimamente experiente sabe bem que há riscos de os defeitos serem transmitidos geneticamente e que os malefícios das consanguinidades podem resultar em criações inteiras de peixes defeituosos... Isto porque o "F" vem da palavra latina "filialis", o que significa algo como "filho de" ("fīlius" = "filho" and "fīlia" = "filha"). Portanto, algo como "Filialis Zero" é coisa que não existe. Na árvore genealógica, o "zero" são os pais (no caso dos nossos peixes, o casal de exemplares WC...) Um peixe F1 é um peixe TR que é filho de dois peixes WC e que é portanto a primeira geração de crias desse casal. Os F2 são filhos de um casal em que ambos os pais são F1 (portanto são a segunda geração obtida a partir de peixes WC...) e por aí em diante... Há quem fale até de F1.5, quando um dos pais é WC e o outro é F1... Lembrei-me de publicar este "post" porque muitas pessoas que me contactam para saber mais sobre os peixes que crio e que às vezes ponho à venda me perguntam se são "F's" (éfes qualquer coisa...) Não, não são e por uma boa razão. Regra geral, não gosto de fazer criações com peixes selvagens e não os escolho para reprodutores. É uma escolha pessoal. Está muito na moda falar-se de peixes selvagens (penso que alguns importadores até se utilizam disso para inflacionar os preços... Porém, também isto é uma opinião pessoal, sublinhe-se...) mas convém ter-se em conta o seguinte: antes de tudo, só porque um peixe é selvagem, não significa que seja perfeito. Está provado que um criador que trabalhe com peixes selvagens pode oferecer peixes TR (sejam eles F1, F2 , ou mesmo sem "F"...) tão bons ou mesmo melhores (mais resistentes, mais saudáveis e até mais bonitos) que os selvagens. Desde logo porque (a não ser que o peixe venha de uma fonte absolutamente fidedigna, sem intermediários...) nunca se sabe quantos anos tem um peixe selvagem, o local exacto onde foi capturado, etc. Quem nos garante que essa informação é absolutamente correcta? No Malawi e no Amazonas, só para dar dois exemplos, há montes de peixes que são criados em redes colocadas no seu habitat selvagem, sendo que na sua maioria são exportados como sendo "Wild Caught". Porém, quando entram nos circuitos comerciais tudo muda, perde-se o controlo e já foram identificados inúmeros casos de falsificações de documentos. Mas há mais riscos. Veja-se a foto em baixo, retirada do site do Projeto Piaba, por exemplo. Quais são as probabilidades de estarem ali peixes irmãos? Como é fácil de imaginar, eles não testam o ADN de cada peixe que vai para exportação... Por outro lado, há peixes selvagens que nunca recuperam do trauma (nunca se alimentam como deve ser, apanham doenças frequentemente, etc) e duram poucos anos. Eu tenho um óscar selvagem (com ocelos na barbatana dorsal, uma espécie que o Dr Axelrod até tentou classificar como diferente do Astronotus ocelatus) com cerca de 3 anos que só me dá problemas sempre que o tento acasalar. Intraespecificamente é muito mais agressivo que a maioria dos óscares, requer muito mais território do que os outros, etc. A realidade é que há muito menos problemas com peixes criados em cativeiro: não são tão esquisitos, são menos tímidos, estão perfeitamente adaptados ao ambiente em que foram criados e sobretudo comem qualquer coisa. Ora, como hoje em dia há muitos alimentos no mercado que fornecem todas as vitaminas para termos peixes saudáveis (e até ajudam a realçar as cores), o risco de comprar exemplares problemáticos é menor quando se compram peixes criados em tanques. Volto a salientar que muito do que aqui escrevi é apenas reflexo de opiniões pessoais. Como isto é um fórum, é suposto ser um espaço aberto, vocacionado para fomentar debates. Mas espero ter conseguido ajudar a clarificar o assunto. Cumprimentos a todos. Post-Scriptum: Como não vi no Aquariofilia.net nenhuma referência ao falecimento do Dr Herbert Axelrod, no dia 15 de Maio de 2017, aproveito para partilhar o link do obituário publicado pela Practical Fishkeeping com o resto do pessoal (a leitura vale a pena): http://www.practicalfishkeeping.co.uk/news/fishkeeping-news/articles/2017/5/30/obituary-dr-herbert-r-axelrod