wilson vianna

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  1. Bettas Selvagens do Brasil Wilson Vianna 1 – Introdução No final do ano de 2009, surgiram nas lojas do município Fluminense, no estado do Rio de Janeiro, bettas tipo veiltails, semelhantes àqueles que eram criados e comercializados no século passado, por volta da década de 1960, os quais já não são vistos há muitos anos, uma vez que os atuais são produtos de seleções genéticas e apresentam-se com cores sólidas e brilhantes, além de configurações mais sofisticadas de nadadeiras, etc. Através de uma breve investigação não foi difícil descobrir a sua origem: estavam sendo comercializados por um atacadista da cidade de Magé, que comprava de um pescador de peixes ornamentais da região pelo valor de R$0,30. Convenci o citado atacadista a levar-me ao pescador e, chegando lá, fiquei sabendo que este último também era mais um atravessador, que não conhecia o local exato da pesca e que comprava de alguns meninos da região por R$0,10. Segundo ele os bettas eram coletados e vendidos aos milhares. Naquele dia não foi possível chegar ao biótopo daquelas relíquias vivas, mas continuei pesquisando, entre pescadores e criadores da região, até que em abril de 2010, com o auxilio do piscicultor e amigo Idésio de Almeida, que também é criador bettas, implementei uma nova incursão a região. Num domingo, bem cedo, fomos para o local recomendado e, perguntando de casa em casa, finalmente chegamos a uma localidade, próximo a uma comunidade chamada “Favela do Saco” onde muitos moradores conheciam o “peixe betta” e se referiam a ele com bastante intimidade. Em pouco tempo descobrimos alguns meninos que pescavam e vendiam e logo juntou um grupo para oferecer-nos exemplares campeões das suas rinhas, já aclimatados em vidros, etc, etc. Entendemos que estava iniciando naquela região – local de população carente - uma cultura espontânea de manutenção de bettas em cativeiro. 2 – O Habitat Com a ajuda dos jovens percorremos alguns quilômetros e chegamos a um riacho, de aproximadamente um metro e meio de largura, que desaguava num lago de aproximadamente 8 metros de diâmetro e que depois corria por riachos mais estreitos que seguiam na direção da comunidade, onde recebiam o esgoto da população. O citado riacho tinha sua origem na mata Atlântica e água provinha de nascentes na serra, muito comum na região. A água do biótopo apresentou os seguintes parâmetros físico-químicos: pH 6.8, DH 6.0, temperatura 16º, condutividade elétrica 110 mS/cm e transparência 1 metro (disco de Secchi). Foto de Wilson Vianna Figura 1 – biótopo de bettas selvagens – no Município de Vale das Pedrinhas – RJ. A vegetação é composta basicamente por espécies de plantas nativas à margem e ninfeias ao centro, que flutuantes fornecem abrigo aos organismos aquáticos do ecossistema. 3 - A História Localizado o habitat daquela extraordinária população de bettas, que segundo nosso entendimento, está adaptada aquele ecossistema, apesar de todas as diferenças com seu habitat de origem, o sudeste da Ásia, surgiu outro questionamento: como chegaram até ali? E uma nova investigação iniciou-se. Desta vez procurei informações com os velhos amigos aquariofilistas, que criavam bettas naquela época, entre eles: Rubens Ramalho Rangel, Gastão Botelho, Rafael Mascheville e Alex Damásio, meus consultores, todos já com mais de 80 anos de idade. Os depoimentos foram unanimes em apontar para um “Sr. Israel”, que segundo eles teria sido o primeiro criador de bettas do estado do Rio de Janeiro. Assim, voltamos à investigação. Desta vez convidei o amigo Jose Carlos Motta, biólogo de nascença e de formação, que logo aceitou o desafio e, então, partimos para o Vale das Pedrinhas e não foi difícil chegarmos a fazendo do Sr. Israel, que nos recebeu com grande amizade e consideração. Depois de um longo bate papo e o tradicional cafezinho, perguntamos sobre os bettas criados no ano de 1960 e se ele saberia a origem dos introduzidos na região. Com a voz cansada, dos seus 83 anos, ele emocionado deu-nos o seguinte depoimento: Foto de Wilson Vianna Figura 2 – O saudoso Sr. Israel com o Biólogo do CEA/AQUORIO, Jose Carlos Motta. “Naquela época ninguém sabia criar bettas no Rio de Janeiro e os exemplares que circulavam nas lojas eram, em sua maioria, importados. Havia apenas um cidadão chamado Takase, no estado de São Paulo, que os reproduzia. Assim, adquiri um lote e coloquei cada casal dentro de um caixote de maçã, dentro de um grande tanque escavado no chão, com a lâmina d’água de apenas 15 cm. No outro dia observei que todos os casais haviam feito ninhos e logo reproduziram. No dia seguinte, à noite, ocorreu uma chuva muito forte que inundou o tanque fazendo-o transbordar e, para minha tristeza, a maioria dos peixes foi na enxurrada. Para piorar a situação, dias mais tarde, uma retro escavadeira caiu dentro do tanque e, derramou todo o seu óleo, acabando com toda a minha esperança de salvar algum filhote.” “Seis meses depois deste fato, ao passar pelo citado tanque, que estava abandonado e cheio de capim, vi alguns peixes nadando e para meu espanto eram bettas já adultos que depois de retirados e contados ultrapassaram dez mil unidades”. “Acredito que com a enxurrada, alguns desses bettas, foram parar no local onde atualmente habitam os bettas selvagens, pois é o caminho natural das águas quando ocorrem enchentes na região”. 4 – Os Bettas Selvagens Os animais adquiridos por nós apresentavam-se com pouca coloração e com nadadeiras rasgadas, sinais característicos de contentas, no entanto, logo após serem colocados em cativeiro, aceitaram ração industrializada e em poucos dias já estavam adaptados e se armando para os “vizinhos”. Foto de Wilson Vianna Figura 3 – casal de betta selvagem logo após a sua coleta. O processo de crescimento também foi verificado a partir do seu condicionamento em beteiras. Observamos também que a coloração ficava mais intensa e brilhante após alguns dias no cativeiro, conforme os exemplares que demonstramos na figura 4 abaixo: Foto de Wilson Vianna Figura 4 – exemplares machos coletados e aclimatados após 20 dias em cativeiro. Depois de aclimatados os animais se mostraram excelentes reprodutores, sendo observado, em suas posturas, sempre mais de 1000 ovos. A título de curiosidade vale relatar o fato que ocorreu com o criador Jon Kanenberg, que também trabalha nesta pesquisa, que logo após o primeiro cruzamento não sabia o que fazer com a enorme quantidade de alevinos e acabou utilizando parte na alimentação de outros peixes. Extremamente ativos “os selvagens” são bastante resistentes a enfermidades e resistiram, em nossa pesquisa, a cepas de Flexibacter columnaris, Piscinoodinium pillularis, Saprolegnia sp, Gyrodactilus sp , Dactilogirus sp e Camallanus cotti fujita, demonstrando possuírem um sistema imunológico bastante ativo, fato que acreditamos terem adquirido no decorrer de todos esses anos de adaptação, nos quais foram submetidos a condições adversas àquelas do seu habitat de origem. Cito por exemplo as baixas temperaturas da água na região do Vale das Pedrinhas que no inverno chegam a 13 graus, enquanto no seu habitat de origem, o sudeste da Ásia, essas temperaturas dificilmente são inferiores a 24 graus. 5 – Estudo para conhecer o comportamento gênico dos selvagens. Com o objetivo de conhecer o comportamento gênico dos bettas selvagens e no futuro transferir material genético, reativo à resistência a enfermidades, bem como aos altos valores de fertilidade, iniciamos um processo de experimentos e a seguir demonstramos alguns resultados: 5.1 - Cruzamento 1 – betta selvagem (macho) X betta selvagem (fêmea) Neste experimento, como era esperado, toda descendência apresentou característica de veiltail selvagem. Observou-se que na camada iridescente (camada de cor do topo) o azul royal e o azul turqueza estão presentes. O exemplar da figura 5, abaixo, na ocasião da foto estava com quatro meses de idade e a partir daí houve acentuado crescimento da nadadeira caudal, adquirindo o formato de véu. Figura 5 – exemplar macho descendente do cruzamento de betta selvagem (macho) X betta selvagem (fêmea) 5. 2 - Cruzamento 2 – betta selvagem (macho) X betta plakat de cativeiro azul royal (fêmea). Neste experimento toda a descendência apresentou característica de veil tail selvagem, no entanto, verificou-se uma discreta tendência ao encurtamento da nadadeira caudal. Observou-se, também que na camada iridescente (camada de cor do topo) houve predominância para a cor azul turqueza, conforme exemplar apresentado na figura 6 abaixo: Foto de Wilson Vianna Figura 6 – exemplar descendente do cruzamento de betta selvagem (macho) X betta plakat cativeiro (fêmea). 5.3 - Cruzamento 3 – betta selvagem (fêmea) X betta plakat de cativeiro azul royal (macho) Neste experimento toda a descendência apresentou característica de veiltail selvagem, verificando-se uma discreta tendência ao encurtamento e alargamento da nadadeira caudal. Observou-se também que na camada iridescente (camada de cor do topo) houve predominância para o azul royal, conforme figura 7 abaixo: Foto de Wilson Vianna Figura 7 – exemplar descendente do cruzamento de betta selvagem (fêmea) X betta plakat cativeiro (macho). Observação: Chamamos aqui a atenção para o primeiro conhecimento adquirido: Na utilização do macho selvagem com fêmea de cativeiro ocorreu, na descendência, maior incidência de cor do topo (iridescência) azul turqueza, enquanto no cruzamento de uma fêmea selvagem com um macho de cativeiro houve, na descendência, maior incidência de cor de topo (iridescência) azul royal. Vale ressaltar que machos e fêmeas de cativeiro utilizados no experimento eram irmãos pertencentes à linhagem fixadas durante várias gerações. 5.4 - Cruzamento 4 – betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea selvagem X betta macho plakat de cativeiro) X betta plakat de cativeiro azul royal (macho). Neste experimento, observou-se na descendência relevante encurtamento da nadadeira caudal, bem como menor incidência das cores iridescentes (verde/azul), conforme figura 8, apresentada abaixo: Foto de Wilson Vianna Figura 8 – exemplar macho descendente do cruzamento de: betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea selvagem X betta macho plakat de cativeiro) X betta plakat de cativeiro azul royal (macho). 5.5 - Cruzamento 5 – betta Fêmea ((descendente do cruzamento de betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea selvagem X betta macho plakat de cativeiro) X betta plakat azul royal)) X betta plakat de cativeiro azul royal (macho). A descendência apresentou a morfologia do corpo com tendências ao betta short tail (cauda curta). A camada de topo (camada iridescente, responsável pelas cores azul/verde) apresentou-se com características de betta selvagem, conforme demonstramos na figura 9 abaixo: Foto de Wilson Vianna Figura 9 – Exemplar macho descendente do cruzamento de: betta Fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea selvagem X betta macho plakat de cativeiro) X betta plakat azul royal) X betta plakat de cativeiro azul royal(macho). 5.6 - Cruzamento 6 – Betta fêmea ((descendente do cruzamento de betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea selvagem X betta macho plakat de cativeiro) X betta plakat azul royal) X betta plakat azul royal))X betta macho plakat de cativeiro azul royal. A descendência apresentou a morfologia do corpo com característica de betta short tail (cauda curta - plakat), mantendo ainda a cauda arredondada. A cor predominante foi a azul royal, herança dos plakats de cativeiros utilizados nos cruzamentos anteriores, que se manifestaram, fenotipicamente, nesta geração. Cabe ressaltar, também que a camada vermelha, herança dos selvagens, se mostra evidente, ainda em parte da nadadeira anal e das nadadeiras pélvicas, conforme exemplar demonstrado na figura 10 abaixo: Foto de Wilson Vianna Figura 10 – Exemplar macho descendente do cruzamento de: betta fêmea ((descendente do cruzamento de betta fêmea (descendente do cruzamento de betta fêmea selvagem X betta macho plakat de cativeiro) X betta plakat azul royal) X betta plakat azul royal)) X betta macho plakat de cativeiro azul royal. 6 - Considerações finais: O presente trabalho oferece-nos a oportunidade de efetuarmos uma série de combinações, trazendo-nos conhecimentos genéticos práticos. Várias experimentações continuarão sendo realizadas, com a intenção de conhecermos melhor a genética desta interessante população de bettas selvagem e do Betta splendens como um todo. 7 - Colaboradores Colaboraram neste trabalho: O biólogo José Carlos Motta, o médico veterinário Reinaldo Santana e os criadores de bettas da atualidade: John Klaus Kanenberg, Idésio de Almeida, Jesus de Almeida, Adauto de Almeida, Marcus Marchom; os criadores de bettas da década de 1960/70: Rubens Ramalho Rangel, Gastão Botelho, Rafael Mascheville, Alex Damásio e o saudoso Sr. Israel que, Infelizmente, depois de alguns meses, faleceu e assim dedicamos este trabalho a sua memória. Wilson Vianna é Biólogo, professor de biologia e pós-graduado em biologia Marinha, presidente da Associação dos aquicultores Ornamentais do estado do Rio de Janeiro - AQUORIO. www.aquorio.com