[ARTIGO] O Aquário de Recife - Parte I


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O Aquário de Recife

 

Preparação, Instalação e Manutenção

 

 

Introdução

 

Muitos são aqueles que em viagens únicas, têm o prazer de viver momentos que não se esquecem! Uma viagem à Polinésia, ao Mar Vermelho, às Seycheles ou Maldivas ou a tantos lugares de sonho, onde podemos partilhar com a natureza, talvez aquilo que ela tem de mais esplendoroso – O Recife de Coral.

 

Muitos mais são aqueles, que apenas podem sonhar com isso, ou talvez apenas pensar em ter uma parte desse mundo nas suas casas! O aquário de recife, pode, hoje em dia, trazer para os nossos lares um pouco desse esplendor.

 

Neste artigo, que será dividido em diversas partes, vou tentar transmitir, através da minha experiência pessoal, algumas ideias de como um aquário de recife pode ser montado.

 

Gostaria de salientar que não existe uma regra! Existem muitas ideias, umas mais correctas que outras, umas mais científicas que outras, enfim, o que vou transmitir nestes artigos são apenas algumas das minhas ideias...

 

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FIG 1 - Foto do meu aquário de 300 litros.

 

 

PARTE I

 

 

A Escolha do Aquário e sua Colocação

 

 

Hoje em dia, as técnicas de construção de aquários permitem-nos escolher os mais diversos formatos e inclusivé diversos materiais. Sem dúvida que o aquário rectangular oferece a melhor relação entre a funcionalidade e a estética, pelo que é a forma que eu recomendo para um principiante. As suas medidas podem variar muitissímo, mas normalmente a relação entre a longitude-profundidade-altura é de 2-1-1.

 

Um aquário com mais do que 60 cm de altura torna-se complicado de manter, não só pela inacessibilidade a todo o seu interior como também na correcta oxigenação e iluminação. A altura provoca a estratificação, não permitindo uma iluminação correcta.

 

A profundidade por seu lado é benéfica, uma vez que permite uma maior facilidade na circulação da água e iluminação. Mas tudo tem o seu senão, um aquário muito profundo irá encarecer muito e portanto tornar-se inviável.

 

O material para o aquário poderá também variar. Hoje em dia os aquários de acrilico estão muito na moda, no entanto, na minha opinião com o passar do tempo tornam-se opacos. O vidro continua a ser a melhor opção!

 

Nem todos os aquários que encontramos no mercado se adaptam para um aquário de recife. Assim, será aconselhável escolhermos o local de colocação e o seu suporte e mandar construir um aquário de raiz, pois desta forma, não necessitamos de o mandar furar (no caso de querermos colocar um filtro por baixo – sump) ou colocar um sexto vidro (criando um sistema de filtragem dentro do próprio aquário).

 

O aquário de recife não deverá ter tampa, pois a inexistência da tampa vai permitir uma melhor e mais eficaz troca gasosa com o exterior, bem como uma melhor refrigeração do aquário.

 

O suporte para um aquário marinho deverá seguir algumas regras fundamentais:

 

- Robustez – devemos lembrar-nos que um aquário com a decoração (substrato, rocha viva e àgua) terá um peso muito elevado.

- Horizontalidade – é muito importante que o suporte escolhido, seja perfeitamente horizontal, não correndo o risco de existir uma quebra do vidro de fundo.

- Resistência à água salgada – não nos podemos esquecer que a água salgada, tem um elemento extremamente corrosivo que é o próprio sal, e por isso devemos excluir suportes de metal que não sejam resistentes à corrosão pelo sal.

- Espaço Útil –para um aquário marinho poderemos necessitar de algum espaço para todos os equipamentos e acessórios. Assim, será muito útil que seja construído um armário pensando já neste assunto.

 

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FIG 2 - Sump – zona de filtração, instrumentos e materiais.

 

Será importante, apenas por uma questão estética pensarmos na altura do suporte. Se o aquário for colocado na sala de estar ou de jantar (locais onde recebemos os nossos convidados), tornar-se-á ideal uma altura de 70 a 80 cm do solo, pois o aquário será observado de locais onde as pessoas estão maioritariamente sentadas. Se o aquário está numa zona de passagem , a altura do suporte deverá ter entre 120 e 140 cm.

 

 

A Iluminação

 

 

É completamente imprescindível que um aquário de recife tenha uma iluminação artificial. A intensidade desta vai depender do tipo de corais que pretendemos manter. A tipologia dos organismos que pretendemos colocar no aquário vai condicionar o tipo de iluminação que escolhemos, uma vez que uns necessitam de mais luz, pois na natureza vivem mais próximo da superfície, e outros quase não precisam desta.

 

A luz é composta basicamente por uma escala de cores que vão do ultravioleta ao infravermelho, passando pelas mais diversas cores como o azul, o verde, amarelo, etc. Cada cor corresponde a um comprimento de onda expresso em nanómetros (nm). A luz quando penetra a água vai sendo absorvida à medida que vamos descendo. Assim, os ultravioletas não passam mais do que alguns centímetros, pois se isso não acontece-se, muitos organismos seriam literalmente queimados. A última radiação a desaparecer é a azul, que consegue penetrar muitas centenas de metros.

 

 

Tipos de Iluminação

 

Não há um tipo de iluminação ideal para um aquário de recife, há sim, orientações que determinam qual o melhor tipo de iluminação para cada tipo de aquário e para cada tipo de vida marinha no aquário.

 

A escolha da iluminação vai depender daquilo que consideramos como o objectivo para o nosso aquário. Devemos tomar a nossa decisão com base em testemunhos de casos reais e fotografias de outros aquários, e não com base em “Bíblias” da aquariofilia. Temos que pensar que a maior parte dos organismos que poderemos manter no nosso aquário, dependem da luz pois são fotosintécticos. A maior parte dos corais têm alojadas nos seus organismos, plantas simbióticas chamadas zooxantelas, que libertam os produtos da fotosintese nos seus corpos. As zooxantelas dão comida e oxigénio aos corais e estes libertam nitrogénio e dióxido de carbono que por sua vez alimentam as zooxantelas. Se queremos manter invertebrados que dependem das suas algas simbiontes para a sua nutrição, então a iluminação é importante.

 

Existem vários tipos de iluminação disponível para o aquário de recife, mas todas se englobam em dois grupos – as Florescentes e as de HQI ou Iodetos Metálicos. Dentro das luzes florescentes podemos distinguir 3 tipos: os tubos florescentes comuns (T8), os tubos florescentes compactos (PC) e as VHO (very High Output) que chamamos de T5.

 

Para aquários com uma profundidade reduzida (inferior a 50 cm) e onde pretendemos colocar corais que necessitem de pouca luz, como por exemplo os Actinodiscus, Ricordeas e Tubastreas, podemos apenas colocar uma iluminação do tipo T8, tendo em atenção que devemos colocar lampadas do tipo daylight conjugadas com lampadas actinicas (azuis). A potência destas lampadas pode ser significativamente melhorada com a aplicação de refletores.

 

Para aquários com uma profundidade maior, mas mais uma vez para organismos não muito exigentes em termos de iluminação, poderemos usar as PC´s ou as T5, tendo mais uma vez em conta a conjugação entre as daylight e as actinicas. Neste caso também é possível a aplicação de refletores.

 

Para aquários onde as exigências de luz é muito grande, quer pela sua profundidade, quer pelos organismos a manter, as lampadas ideiais são as de HQI devido à enorme capacidade de penetração das suas radiações. Devemos calcular nestes casos uma potencia de 150 a 250W por cada 80 a 120 cm de comprimento do aquário. Muitas são as hipóteses para a aplicação deste tipo de projectores, mas mais do que isso, importante é que o projector tenha protecção contra os raios UV. A potência das lampadas pode variar de 75 a 400 Watts, mas para aquários com uma profundidade não superior a 80 cm aconselho o uso de lampadas de 150W.

 

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FIG 3 - O meu aquário apenas com as luzes actinicas acesas.

 

 

Na escolha da melhor iluminação, teremos que ter em conta, não só a conta de electricidade, mas também o aquecimento da água do aquário, que como vamos ver mais à frente não deverá ultrapassar os 27 graus. Este problema pode ultrapassar-se com a instalação de ventoínhas direccionadas para a superfície da água, ou através da instalação de um refrigerador. As lampadas de HQI devem ser colocadas cerca de 30 cm acima do nível da água, prevenindo assim o sobreaquecimento. Mesmo utilizando um refrigerador devemos ter cuidado para não colocar as lampadas muito próximas da água, pois a radiação que emitem poderam danificar os tecidos de alguns corais, colocados mais junto à superfície.

 

 

Fotoperíodo

 

O fotoperíodo corresponde à duração da iluminação. A minha experiência diz-me que os melhores resultados no crescimento dos corais ocorre com um fotoperíodo de 12 horas. Os organismos fotosintéticos necessitam tanto de luz como de escuridão para o seu metabilismo.

 

Um fotoperíodo de 12 horas deverá ser dividido em várias fases, dependendo do tipo de iluminação que utilizamos. Quando temos uma combinação entre luzes actinicas e luzes daylight, quer para T8 ou T5, as luzes actinicas devem acender primeiro e só depois as luzes brancas, no final do fotoperíodo as luzes brancas deverão apagar primeiro e só depois as actinicas. Assim, estamos de alguma forma a simular o nascer e o por do sol. O mesmo se pode fazer com aplicação conjunta de lampadas florescentes actinicas e lampadas de HQI.

 

Podemos ainda aplicar uma lampada de baixa voltagem durante a noite simulando o luar. Esta iluminação muito fraca irá estimular a reprodução e propagação dos corais.

 

Em resumo, vamos ter um fotoperíodo de 12 horas em que as lampadas brancas apenas estarão acesas durante 10 horas.

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