Hibridos, No Lago Malawi E No Aquário


Recommended Posts

Viva,

 

Penso que estes dados poderão ser úteis:

 

Na natureza, quando se cruzam duas espécies, o mais comum é não existir descendencia. Em espécies aparentadas poderão haver hibridos. Os hibridos apresentam por vezes anomalias e geralmente são estéreis.

 

Só que no Malawi as coisas são diferentes, aqui a natureza brincou com o conceito de espécie e os hibridos são geralmente... viáveis. A maior parte pode gerar descendencia fertil, mesmo que os pais tenham um aspecto completamente diferente!

 

Uma teoria diz que os ciclideos dos lagos criaram tantas especies (800 só no Malawi) em tão pouco tempo porque têm um mecanismo próprio de especiação. Talvez um sistema que estimule o isolamento reprodutivo dentro de uma população, baseado em cor ou no aspecto. Por exemplo, o grupo da ponta leste do mesmo reef começa a preferir machos de dorsais amarelas. Depois dessa barreira criada ambas as "espécies" competem pelo mesmo alimento e espaço e é natural que desenvolvam especializações diferentes.

 

Constata-se que espécies muito aparentadas vivendo juntas numa mesma região do lago NÃO SE CRUZAM. Uma das primeiras preocupações da natureza é precisamente impedir a hibridização. Por exemplo, o Labeotropheus fuelleborni e o trewavasae são tão parecidos que a maior parte dos aquariofilistas não os distingue, a não ser que já conheça a coloração específica de uma dada população. Se misturarmos estes peixes de zonas diferentes do lago teremos uma caldeirada de hibridos mas se misturarmos peixes das duas espécies que co-habitam a mesma região elas não se cruzam.

 

As espécies muito parecidas que vivem juntas desenvolvem mecanismos de diferenciação, por exemplo, optam por cores complementares: se a especie A é amarela num local, a especie parecida, a B, é azul nesse local. Noutra zona será a especie B a amarela e a A a azul.

 

Na prática, a natureza cria barreiras para impedir a hibridização. Porquê? Porque a hibridização (do ponto de vista da natureza) é péssima: destroi a especialização. Se uma das duas espécies parecidas desenvolveu dentes mais separados para "peneirar" melhor as algas e se a outra espécie desenvolveu um nariz mais forte para conseguir arrancar as algas, um hibrido irá ter um nariz musculoso que o incomoda a "peneirar" as algas ou uns dentes com os quais não consegue puxar as algas para as arrancar. Pode também não ter nenhuma das caracteristicas úteis de ambas as especies e, em épocas de pouco alimento, irá morrer.

 

Um hibrido, quando acontece, é como uma mutação genética: Só um caso em milhões poderá criar um ser vivo mais adaptado. Nesta circuntancia rarissima então sim, é preservado pela selecção natural. De facto, a hibridização natural é um dos mecanismos que a natureza tem para criar uma espécie nova. É também um mecanismo muito raro.

 

A natureza, quase sempre, não gosta da hibridização. No Malawi, quanto duas especies cometem o erro de se cruzar, os hibridos são 99.99999% das vezes peixes menos adaptados. A natureza, não apenas elimina esses peixes como as especies que se podem cruzar com facilidade aprenderam (por selecção natural) a criar barreiras entre si. Assim evitam o enorme desperdicio de esforços reprodutivos.

 

No nosso caso, quando cruzamos duas espécies no aquário, estamos precisamente a fazer aquilo que a natureza tanto se esforça por evitar.

 

Por vezes podemos ter a sensação que estamos a criar algo de novo: São peixes que não existem na natureza.

 

Não existem por um motivo simples: tratam-se de seres vivos menos adaptados e que não teriam hipoteses no mundo real.

 

Com a hibridização criamos peixes deficientes, sem aquela magia que lhes permite, no seu meio ambiente original, sobreviver e reproduzir-se.

 

Sim, os hibridos acontecem no meio natural. Acontecem como também acontecem as deficiencias: os peixes cegos, de espinha torta, de barbatanas defeituosas, de guelras expostas... É algo que a natureza tenta evitar ou corrigir depois, eliminando-os.

 

Nós não precisamos de seguir estas regras, somos seres humanos, somos um factor muito especial da natureza que tem a capacidade de subverter outros.

 

Por exemplo, para efeitos de estudo, os cientistas criam deliberadamente hibridos, isso não é certamente errado.

 

Já os peixes que mantemos no aquário são uma questão de gosto.

 

O gosto é algo que não se discute mas não fará mal estarmos devidamente informados, para podermos escolher.

 

Um hibrido é um peixe deficiente, onde algumas das caracteristicas dos progenitores estarão disfuncionais. É um peixe que não sobreviveria no seu biotopo de origem.

 

Manter ou não esses peixes tem a ver com a forma como vemos os aquários.

 

Pessoalmente, gosto de manter especies genuinas, que sejam representantes dos seus biotipos de origem. Gosto que o aquário seja uma janela para natureza.

 

Não pretendo um montão de coisas artificiais a nadar de um lado para o outro.

 

Outros vêm o aquário simplesmente como um espaço decorativo. Convem tenha cor e movimento, a natureza interessa pouco.

 

Neste caso é indiferente se os peixes são hibridos ou não.

 

Se esta perspectiva é condenável? Penso que não. É uma questão de (mau) gosto.

 

É como gostar do amarelo ou ser-se de um determinado clube... gostos não se discutem.

 

 

 

Miguel

Editado por Miguel Figueiredo
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Bonito só falta uma coisa, não é nada mas faz toda a diferença, podes discriminar as fontes de todas essa informação, só para esclarecimento e para tornar credível toda a informação que apresentas, considera esta sugestão como autodefesa, pois contra factos não há argumentos.

 

Só mais um pequeno reparo, acho este post construtivo e percebo o porque de não seres a favor de híbridos, mas cuidado quando se chama aberrações aos híbridos, pois não há regra sem excepção e apesar das potênciais anomalias genéticas e disfunções que possam vir a surgir, a hibridização é um ferramenta da evolução tal como tantas outras, apesar das baixas taxas de sucesso.

 

Bom e para ajudar no esclarecimento fica aqui o link para um artigo cientifico cujo título é :Hybridization and contemporary evolution in an introduced cichlid fish from Lake Malawi National Park - http://hcgs.unh.edu/Staff/kocher/pdfs/Streelman2004.pdf

 

No selvagem a hibridização é de facto uma ameaça entre tantas outras:

New species of cichlids are discovered every year. Because scientists don't know how many types there are, creating conservation plans is difficult. As with all animals that are intensely specialized in adaptations or behavior, cichlids are vulnerable to habitat changes, such as pollution and the introduction of exotic species, which can increase predation, competition, and hybridization. Cichlids are also threatened by overfishing and collection for the pet trade. - http://www.seaworld.org/animal-info/animal...es/cichlids.htm

 

E para que realmente estiver interessado na história completa dos ciclídeos e sua evolução deixo aqui mais uns links, com interesse:

 

Phylogeny of a rapidly evolving clade: The cichlid fishes of Lake Malawi, East Africa: http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlere...cgi?artid=21824

 

Cumprimentos a todos,

Edgar Ribeiro

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Viva,

 

Miguel Parabéns pelo texto, um excelente artigo.

 

Assim é que se conquista terreno face á hibridização, sem polémicas, sem ataques pessoais, sem faltas de educação e civismo. Todos ficamos a ganhar.

 

Acho que a moderação deveria aproveitar o texto e colocá-lo nos Artigos a não perder!.

 

Um abraço

 

Nuno

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Bonito só falta uma coisa, não é nada mas faz toda a diferença, podes discriminar as fontes de todas essa informação, só para esclarecimento e para tornar credível toda a informação que apresentas

 

Bom, post num forum não é um artigo cientifico. De resto, não expus nada de novo, tudo isto é do conhecimento geral e dar-me-ia uma trabalheira tentar encontrar exactamente os autores, livros e capitulos onde aparecem estas referencias :D

 

De qualquer modo, grande parte do que sei sobre o Malawi tem como referencia as obras do Konings, um ou outro pormenor terá a ver com a minha experiencia "in loco", nas diversas expedições que fiz ao lago e claro, com mais de uma decada a manter estas espécies.

 

Tens também um bom contributo para muitos dos conceitos indicados no conhecido trabalho de Streelman sobre as C. Afra introduzidas na ilha de Thumbi West, cujo link apresentaste.

 

 

Miguel

Editado por Miguel Figueiredo
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Bom, post num forum não é um artigo cientifico. De resto, não expus nada de novo, tudo isto é do conhecimento geral e dar-me-ia uma trabalheira tentar encontrar exactamente os autores, livros e capitulos onde aparecem estas referencias :)

 

De qualquer modo, grande parte do que sei sobre o Malawi tem como referencia as obras do Konings, um ou outro pormenor terá a ver com a minha experiencia "in loco", nas diversas expedições que fiz ao lago e claro, com mais de uma decada a manter estas espécies.

 

Tens também um bom contributo para muitos dos conceitos indicados no conhecido trabalho de Streelman sobre as C. Afra introduzidas na ilha de Thumbi West, cujo link apresentaste.

Miguel

 

Boa tarde Miguel,

 

Tenho consciência disso, que isto é um fórum não um artigo, de qualquer forma nunca é demais a informação sobre as várias temáticas, pois para que sabe são banais determinados conceitos para quem não sabe é novo.

 

Nem todos tem acesso a fontes de informação e a livros da especialidade e só nesse sentido é que referi que era sempre bom ter algumas referências.

 

Cumprimentos,

Edgar

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

  • 2 semanas depois...

Boas

 

Bom post pena é ser materia mais que batida e pena é tambem que para alguns as coisas entrem a 100 e saiem a 200 principalmente quando lhes cheira a lucro.

 

Mas tambem não podemos fazer como certos membros que com esta historia saltam logo com 7 pedras nas mãos só porque aquele ou o outro deixaram cruzar x com c.

 

Todos temos telhados de vidro vamos apreciar mais o hobie e respeitar as diversas opniões.

 

1 abraço

Rodolfo Silva

Link to comment
Partilhar nas redes sociais