“Geophagus” brasiliensis não é mais um Geophagus


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Tratado há muito tempo como uma única espécie do gênero Geophagus com grande número variedades, o “Geophagus” brasiliensis não é mais um Geophagus. E nem mais uma única espécie. Não vou entrar em detalhes sobre os motivos de eles não pertencerem mais ao gênero Geophagus (caso esteja interessado, recomendo o livro citado na bibliografia), mas alguns aspectos comportamentais já davam pistas que esta separação ocorreria, como a maior agressividade. Ocorre desde Pernambuco (“Geophagus” sp. “Pernambuco”) até o Uruguai (“Geophagus” sp. “Uruguai” e “Geophagus” minutus), em diferentes formas (espécies? variedades?), na faixa costeira leste do Brasil, em áreas de Mata Atlântica. Pude relacionar as seguintes “espécies” ainda não classificadas, lembrando que esta lista é apenas uma pequena amostra, não é completa:

- “Geophagus” brasiliensis – costa do Rio de Janeiro (inclusive em água salobra e poluída) e interior de São Paulo. Ainda não está determinado o limite de ocorrência da espécie a nordeste e a sudoeste desta área. É a forma clássica, mas posso afirmar por experiência própria que exemplares de vários lugares do Rio de Janeiro têm grande variação. Posso falar isto porque já tive animais coletados na Barra da Tijuca e Jacarepaguá que eram muito diferentes dos coletados no Jardim Botânico e na vizinha Lagoa Rodrigo de Freitas, que é salobra e poluída e possui uma grande quantidade de exemplares. Alguns exemplares coletados na Baixada Fluminense também apresentam diferenças das 2 populações anteriormente citadas.
- “Geophagus” sp. “Pernambuco” – no rios Uma, Moco e Capibaribe. Têm perfil mais alongado e são bem esverdeados.
- “Geophagus” itapicuruensis – no rio Itapicuru (Bahia). Têm a mancha lateral comprida e bem escura.
- “Geophagus” obscurus – no rio Paraguaçu (Bahia). São bem encorpados.
- “Geophagus” sp. “Bahia Red” – sul da Bahia, entre Comandatuba e Ilhéus. Têm o corpo afilado e um “focinho” bem pronunciado.
- “Geophagus” sp. “Porto Seguro” – ao norte de Porto Seguro (Bahia), nos rios Buranhé e São João de Tiba. Têm como cor predominante o azul-escuro.
- “Geophagus” sp. “Rio dos Frades” – ao sul de Porto Seguro (Bahia). Muito semelhantes ao “Geophagus” sp. “Porto Seguro”, mas têm a cor mais pálida. (e isto lá é critério pra diferenciar uma espécie ?????)
- “Geophagus” sp. “Itapemirim” – no rio Itapemirim, a 400 km ao norte da cidade do Rio de Janeiro. Bem próximo (quase igual) a “Geophagus” sp. “Bahia Red”
- “Geophagus” sp. “Paraná” – no Rio Tietê, em São Paulo, na nascente e parte inicial do rio, razoavelmente despoluída. Na minha opinião é idêntico ao “Geophagus” brasiliensis.
- “Geophagus” sp. “Uruguai” – no sul de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e norte do Uruguai. Têm a mancha lateral bem grande.
- “Geophagus” minutus – da região de Porto Alegre (RS) até o norte do Uruguai. Têm a mancha lateral grande e tem muitas escamas cintilantes, sendo um pouco mais esbelto e de “focinho” menor que “Geophagus” sp. “Uruguai”

Minha experiência:
Raramente é encontrado em lojas especializadas do ramo, às vezes vem misturado com outras espécies, como o mato-grosso. A maior parte dos meu exemplares vem da Lagoa Rodrigo de Freitas e de uma lagoa localizada na Baixada Fluminense, chamada Lagoa Azul (?! Não me perguntem onde fica, porque nunca fui lá).

Ao contrário do que é dito na maior parte dos livros, não é um peixe muito fácil de se manter a longo prazo e apresenta um grau de dificuldade de médio a alto para ser reproduzido. Apesar de suportar qualquer pH em curto prazo, noto que meus exemplares ficam muito mais suscetíveis a doenças quando mantidos em pH muito ácido. O pH ideal na minha opinião deve estar entre 6,8 e 7,2. A dureza e condutividade da água não têm a mínima importância. Os aquários onde mantenho meus exemplares não possuem plantas, somente troncos, vasos e pedras e têm pelo menos 150 litros. Utilizo cascalho de rio bem grosso, porque se o aquário tiver areia fina no fundo a água estará sempre turva devido à intensa atividade escavatória ( daí Geophagus = come-terra ou papa-terra). O peixe na verdade não se alimenta de areia ou cascalho, ele apenas os filtra para encontrar partículas de alimento e vermes. Alimento os meus exemplares com Tetra Cichlid Mini Granules, Tetra Cichlid Sticks, Tetra Min, gammarus e aviú. Não uso artêmias congeladas nem vivas porque noto que elas podem introduzir uma doença parecida com oodinium no aquário. Esta doença não mata os adultos, mas é devastadora com alevinos recém-eclodidos.

Um grande problema na manutenção deste peixe é a agressividade: apesar de nem se aproximarem neste quesito dos ciclídeos africanos e centro-americanos, alguns machos jovens e adultos podem ser verdadeiros “assassinos”. Controlo este problema mantendo em cada aquário no máximo 2 machos , com 5 ou 6 fêmeas. Muitos abrigos ajudam muito, mas apenas adiam a morte dos mais fracos quando há algum desequilíbrio na hierarquia. Grupos criados juntos desde pequenos são outra solução, a agressividade diminui muito quando adultos.

As gerações nascidas em aquário tendem a ser menos agressivas e menores que os seus ancestrais selvagens, mas as cores se equiparam. É um peixe pouco valorizado aqui no Brasil, por ter uma área enorme de ocorrência e ser muito comum.

A reprodução deste “Geophagus” nem sempre é muito fácil: já tive casais formados que demoraram um ano pra desovar a primeira vez, depois disto desovavam todo mês e produziam toneladas de alevinos; mas também já tive casais que se formaram e NUNCA desovaram, resolvi o problema trocando os parceiros. Eles são muito precoces e já podem a vir desovar com 6 cm (macho) e 4 cm (fêmea) e geralmente são ótimos pais: defendem vigorosamente os ovos e larvas. Tal cuidado parental pode durar mais de 30 dias, até que os pais resolvam desovar novamente. A alimentação dos alevinos deve ser dada apenas após a absorção do saco vitelínico, o que demora de 5 a 7 dias, dependendo da temperatura. Quando mantidos com os pais os alevinos se alimentam dos restos de comida triturados pelos pais, não havendo necessidade de nenhum alimento especial. Quando separados dos pais, devem ser oferecidos microvermes, náuplios de artêmia, Tetra Baby / Sera Micron e infusórios. Já tive ocasiões nas quais eu não contava com nenhum destes alimentos, e ofereci aos alevinos Tetra Min e Tetra Color bem esmagadas com os dedos, com relativo sucesso. O crescimento é lento, mas a perda de alevinos é quase zero, quando bem cuidados. Os machos, via de regra, crescem mais rapidamente que as fêmeas.

O dimorfismo sexual não é tão evidente, mas com a experiência fica bem mais simples: em animais adultos os machos possuem o corpo com muito mais salpicos azulados do que as fêmeas e a mancha negra do centro do corpo quase some, enquanto que nas fêmeas ela é bem mais evidente, cercada por uma área esbranquiçada na época de reprodução. As fêmeas também têm um corpo mais curto, arredondado e amarelado do que os machos . O “galo” que pode vir a aparecer em machos mais velhos também é um sinal, já que as fêmeas nunca desenvolvem este “galo”. Já vi machos adultos sem “galo”, acho que isto varia muito de acordo com a variante geográfica. Para quem tem mais experiência em sexagem de ciclídeos neotropicais o ovopositor também pode ser observado: o do macho é mais fino do que o da fêmea.


Autoria: Geophagus

Referências:Die Buntbarsche Amerikas 3: Erdfresser, Hecht- und Kammbuntbarsche: BD 3 Rainer Stawikowski, Uwe Werner editora: Eugen Ulmer Verlag # ISBN-10: 3800139901 # ISBN-13: 978-3800139903

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Editado por Vera Santos
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