Reprodução de Bettas com características especiais e outros


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Este texto suge como resposta a algumas questões relacionadas com a genética dos Bettas, e obtenção de linhagens com características particulares (variedades) mais difíceis de encontrar entre nós. O Exemplo que dou refere-se à variedade Crowntail dos bettas:

 

 

A característica "crowntail" é determinada por um gene recessivo, apenas se expressa quando os dois cromossomas parentais (um materno e um paterno) possuem esse gene. O gene dominante é "normal" e para se expressar basta estar presente em apenas um dos cromossomas.

 

Como adquiriste um crowntail, ele é homozigótico - possui o gene em cada um dos seus 2 cromossomas.

 

Partindo daqui daqui tens 3 hipóteses:

 

1) Cruzas o macho com uma fêmea que também é crowntail.

Neste caso, como tanto o pai como a mãe apenas têm o gene que codifica a característica crowntail, toda a descendência será homozigótica para a característica, ou seja, serão todos crowntail.

 

 

2) Cruzas o macho um uma fêmea heterozigótica - que possui apenas uma cópia do gene "crowntail" num dos seus cromossomas (ou o materno ou o paterno).

Nestas fêmeas, a não ser que conheças a sua ascendência, nunca poderas saber se ela é heterozigótica ou não. Contudo se ela fôr, é o caso em que (estatisticamente falando - devido às propriedades da meiose) 50% da descendência será heterozigótica (tal como a mãe, mas neste caso vão herdar sempre o gene "crowntail" do pai e o "normal" da mãe) e os restantes 50% serão crowntails (herdaram o gene "crowntail" de ambos os progenitores)

 

 

3) Cruzas o macho com um fêmea homozgótica normal.

Nesta situação, como a fêmea não tem o gene "crowntail", toda a descendência será heterozigótica. Este será o caso mais provável que te poderá ocorrer, no caso de não encontrares um fêmea crowntail. Obtendo esta 1ª geração adulta, podes enveredar por duas vias:

 

3.a) Cruzas a descendência entre si. Vais obter apenas 25% de crowntails, 50% de heterozigóticos, e 25% de homozigóticos "normais".

 

3.b) Cruzas uma das descendentes com o pai. Obténs 50% de crowntails e 50% de heterozigóticos.

 

 

Na minha opinião, 3.a é a melhor alternativa para evitar problemas de consanguinidade a curto e médio prazo, mas também é a que obtém menor "rendimento" de crowntails.

Convém de vez em quando, se possível, introduzir genes novos na descendência, através do cruzamento seleccionado com um macho crowntail de outra proveniência.

 

 

Resta-me dizer que este texto também se pode aplicar a outras características com transmissão mendeliana, como é o caso da coloração dos peixes, os "double tail", etc...

 

 

Espero que o texto não seja demasiado maçudo, tentei sintetizar ao máximo as ideias base, apoiando-me num exemplo concreto. Se julgarem necessário, tento ainda introduzir algumas imagens para terem ideia de como isto se processa em teoria.

 

Boas Criações!

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Boas

Sérgio acho que cobriste todos os ângulos, e como vejo que estás muito mais dentro de o assunto do que eu, já agora esclarece, de uma vez por toda, a confusão, que anda neste fórum, em relação aos híbridos…Isto se não for pedir demais…

Um abraço, até breve

José Bentes

APC"134"; APK "214"

http://sites.google.com/site/aquabenfriends/home

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A pedido do Aquaben:

 

Para esclarecer a questão dos híbridos é necessário esclarecer ainda outros conceitos, nomeadamente de espécie e população.

 

Assim:

 

Espécie - qualquer conjunto de indivíduos que habitam uma mesma área georgráfica e que se cruzam entre si, originando descendência fértil.

 

De acordo com esta definição, vamos agora imaginar a seguinte situação:

 

Temos uma espécie de peixe A presente no Rio Douro e uma espécie de peixe B no Rio Tejo. Um dia um grupo de aquariófilos parte numa saída de campo a estes 2 rios e um deles recolhe um peixe macho da espécie A no Douro e uma fêmea da espécie B no Tejo. Coloca-os no aquário juntos e passado uns meses verifica que os peixes produziram descendência fértil.

 

À 1ª vista poderiamos dizer que se trata da mesma espécie, uma vez que se cruzaram e originaram descendência fértil. Contudo, no meio natural, estes indivíduos nunca se encontrarão, por habitarem em rios diferentes. São por isso consideradas 2 espécies diferentes.

 

 

População: conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que habitam áreas gográficas diferentes e entre as quais existe um fluxo de genes.

 

Para este caso, proponho este exemplo:

 

Imaginemos um conjunto de 4 ilhas, A, B, C e D, dispostas linearmente. Cada ilha tem a sua população de aves, designadas por 1, 2, 3 e 4, respectivamente. A população 1 apenas se cruza com a 2, a 2 cruza com a 1 e a 3, a 3 com a 2 e 4, e a 4 apenas com a 3. (Obviamente que dentro de cada população também existem cruzamentos, 1 com 1, 2 com 2, etc...). Será que 1 é uma espécie diferente de 4, por não se cruzarem?

 

A resposta a esta pergunta está na própria definição de população. Existe efectivamente um fluxo de genes entre as populações 1 e 4, por intermédio de 2 e 3. São portanto uma única espécie.

 

 

E finalmente, a questão que tanta gente aflige:

 

Híbridos: Ser resultante do cruzamento entre progenitores de espécies diferentes.

 

Geralmente existem mecanismos que impedem que isto succeda. Se o indivíduo nascer, geralmente é muito débil, infértil, e de tempo de vida reduzido. É mais frequente ocorrer nas plantas, por isso o exemplo que se segue é retirado de lá (embora possa ser adaptado aos animais).

 

Temos uma espécie de planta A, diplóide (com n pares de cromossomas homólogos, maternos e parternos - notação "2n") em que 2n=10; e outra espécie de planta B, com 2n=8. De acordo com o fenómeno da meiose (redução para metade do número de cromossomas) as plantas originam gâmetas halplóides (com apenas n cromossomas - ou maternos ou paternos - notação "n") A com n=5 e b com n=4.

 

Aquando da fecundação, como estes gâmetas não têm qualquer relação, vai-se originar um indivíduo híbrido, com n+n=9 (4+5). De salientar que este "n+n" em nada corresponde ao "2n" dos progenitores. Como este indivíduo não é diplóide ("2n") a meiose nunca se poderá dar, logo, ele é estéril. Não vai haver troca de genes entre as plantas da espécie A com as da espécie B, porque o híbrido é incapaz de produzir gâmetas.

 

Contudo, esse indvíduo pode tornar-se diploide, através de um processo de "diploidização". Como durante a mitose há duplicação do nº de cromossomas, se não houver separação das células filhas (ou segregação dos cromossomas homólogos para uma das células filhas) a célula tornar-se-á diplóide e o híbrido será fértil, originando uma espécie nova, com 2n=18. Esta espécie, devido ao seu novo cariótipo (nº de cromossomas) é incapaz, em teoria, de se cruzar com as espécies que lhe deram origem.

 

De onde é que vocês julgam que apareceram tantos tipos de couves e trigo? Foi tudo através de processos de hibridização e diploidização. ;)

 

Uma última coisa que julgo que vale a pena esclarecer:

 

Variedade: é um grau de classificação das espécies, ainda mais baixo que sub-espécie, e que denota diferenças morfológicas entre conjuntos de indivíduos. Raramente é utilizado.

 

As espécies têm nomes fixos, no caso dos Bettas, Betta splendens.

Contudo, se nos quiseremos referir a alguns indivíduos com características morfológicas definidas, poderemos utilizar o termo "variedade". É incorrecto dizer, por exemplo, que "crowntail" é uma espécie ou sub-espécie de Betta splendens.

 

 

 

Bem, penso que já cobri grande parte dos aspectos em que muita gente erra, relativamente a estes assuntos de genética. Estou convencido que não é por falta de vontade de aprender, senão não estaríamos aqui. Reconheço que estas definições de biologia nem sempre são as mais fáceis de entender, mas estou convencido que o problema será sobretudo esse.

 

Depois de todo o trabalho que tive neste tópico, gostaria de pedir autorização ao Fábio e ao Ricardo Gomes se me deixam alterar o título do tópico, editar, e colocar como inamovível.

 

Obrigado.

Sérgio Costa.

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Sem duvida que deve ser posto como artigo de consulta.

E podiam aproveitar e porem tambem no sub-forum dos ciclideos africanos, pois aí usam e abusam do termo hibrido...

 

Parabéns e muito obrigado, excelente, acho que não ficam duvidas.

 

Um abraço, até breve

José Bentes

APC"134"; APK "214"

http://sites.google.com/site/aquabenfriends/home

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  • 8 meses depois...

Em relação aos Hibridos, e espero ñ estar enganado...

 

Temos um exemplo simples em portugal...

 

Os famosos, machos e mulas q eram usados em tempos juntamente com burros para puxar as carroças...

 

Eles resultam do cruzamento entre o cavalo e uma burra ou entre um burro e uma égua...

 

Não se podendo reproduzir dps entre eles..

 

Um abraço e espero ñ ter dito nenhuma asneira, e ter conseguido ainda exclarecer melhor o ppl em relação aos hibridos... []'s

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  • 1 ano depois...

Olá a todos!

 

Tou a tentar organizar as coisas um pouco melhor, por isso editei um pouco este topico, agredeço a todos pelas respostas.

 

 

Qualquer duvida relacionada directamente a este topico criem um tópico novo, se for uma pergunta pretinente e bem respondida, será reencaminhada para este post.

Isto para não ter um topico demasiado extenso com conversas cruzadas.

 

Obrigado

Editado por Jorge Bento

Obrigado

Jorge Bento

Licenciado em Biologia Marinha e biotecnologia no ramo de aquacultura

Presidente da Associação Portuguesa de Bettas splendens e selvagens

www.apbettas.com

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